28.9.06

Era só o que faltava...



Um amigo que trabalha numa grande consultora multinacional costuma dizer-me que só fala mal do Estado quem não conhece as empresas privadas portuguesas.

Mesmo assim, não estou a disposto a subscrever o ponto de vista expresso no editorial do DN de ontem por Helena Garrido a propósito do novo ranking de competividade segundo o qual o que está mal em Portugal é o sector privado.

Será mesmo inevitável passarmos rapidamente de um extremo para o outro com esta facilidade? Será mesmo necessário encontrarmos um bode expiatório para os nossos males, que um dia será o Estado e no seguinte a classe empresarial?

Vivemos todos no mesmo país, partilhamos a mesma cultura, frequentamos a mesma escola, lemos os mesmos jornais e assistimos aos mesmos programas de televisão. Acaso seria de esperar, nestas condições, que uma parte da sociedade funcionasse muito bem e outra muito mal?

Quem conhece razoavelmente as instituições portuguesas dos mais diversos tipos, como eu conheço, sabe que, como seria de esperar, os principais defeitos são mais ou menos os mesmos em toda a parte, embora mediados por diversas estruturas de poder e diferentes sistemas de responsabilização colectiva e individual. Há organizações muito boas e organzações muito más, tanto no sector público como no privado.

Se insistirmos nesta absurda tendência de uma parte da nossa sociedade se congratular com os fracassos da outra, mereceremos sem dúvida ser universalmente considerados uns pobres patetas. Era só o que faltava que o coração se risse, como se não fosse nada com ele, das doenças de que padecem os pulmões.

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