7.9.06

Sobre um comentário de Amartya Sen



O individualismo extremo resultante da dissolução dos laços ancestrais suscitou o aparecimento de tribos contemporâneas de cariz urbano, instável e transitório, de que os bloggers são um notável exemplo.

Esses grupos sociais de tipo novo são sem dúvida portadores de apreciáveis virtualidades. Todavia, nos grupos humanos recém emergidos das sociedades tradicionais, as tribos pré-modernas, assentes na afinidade do sangue ou da religião, ainda parecem ser a forma mais natural de combater a solidão e de dar resposta às necessidades de pertença.

Assim, ao lado de numerosos grupos abertos a novas experiências e modos de vida, surgiram e enquistaram-se outros que, partilhando embora o nosso quotidiano, vivem existências paralelas cujo traço mais marcante é o receio da contaminação ideológico-cultural.

Num artigo publicado em 22 de Agosto no Financial Times, e na sequência de outras recentes tomadas de posição (nomeadamente no New Republic e no Guardian), Amartya Sen pôs o dedo na ferida quando notou que, quando se fala de multiculturalismo, tem-se muitas vezes em vista uma absurda partição da sociedade em sub-sectores que, tanto quanto o permite a vida nas sociedades contemporâneas, não só se ignoram mutuamente como tiram daí motivo de orgulho e fundamento de identidade. A essa distorção chama ele, muito adequadamente, “monoculturalismo plural”.

Ora, o multiculturalismo dos guetos culturais é não só perigoso nas suas consequências como indesejável enquanto ideal: sem valores partilhados, não pode haver sociedades humanas estáveis; sem intercâmbio cultural, triunfa a estreiteza de vistas que ameaça a liberdade e nos condena ao definhamento espiritual.

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