Sempre fui de opinião que o euro era uma má ideia. Vamos lá: não uma ideia muito má, apenas um bocadinho má.
Mas é claro que tinha todas as condições para ir para à frente sem grandes oposições. A esquerda, em grande parte internacionalista, simpatiza com uma moeda capaz de unir todos os povos, e por isso não poderia deixar de a aprovar. Á direita, pelo seu lado, agrada retirar a política monetária do controlo de políticos eleitos, e vai daí também apoiou.
Além disso, a criação do euro casa muito bem com o projecto de construir a Europa a partir do tecto e, tanto quanto possível, fora do controlo de poderes democraticamente eleitos. É o emblema perfeito da europeização a marchas forçadas, vulgo Grande Salto em Frente.
Ora o euro estampou-se ao virar da primeira esquina, por não se ter tido em conta que a integração das economias europeias ainda não se encontrava suficientemente avançada para que os seus ciclos se encontrassem coordenados. Em Portugal, a taxa de juro deveria ser um bocadinho mais alta para ajudar a controlar o endividamento, ao passo que na Alemanha deveria ser algo mais baixa para estimular a procura. Em vez disso, temos este fato para marrecos que faz todos ficarem mal no retrato.
É claro que, a partir do momento em que há uma moeda comum, é preciso geri-la. Como não há instituições centrais que controlem as políticas económicas dos países, impoem-se então regras arbitrárias que depois não funcionam. Entretanto, a política interna é desvalorizada na medida em que os governos nacionais podem legitimamente desresponsabilizar-se argumentando que se encontram condicionados por regras impostas por Bruxelas. A democracia esvazia-se de conteúdo e os cidadãos convencem-se de que o seu voto afinal não serve para nada.
Um lindo serviço, não haja dúvida.
Agora, dizem-nos os sábios que o euro é uma realidade irreversível e que, por isso, é necessário avançar-se para um novo Pacto de Estabilidade, ou seja, é preciso repetir-se o mesmo erro outra vez. O problema é que a credibilidade do euro não depende da letra do pacto mas da convicção de que existe vontade de cumpri-lo, seja ele qual for.
Ora a verdade é que ficou claro que um pacto deste género só será cumprido se for conveniente para os poderes fácticos que dominam a União Europeia. Por outras palavras, o arranjo institucional que foi criado para o euro não merece confiança.
O que eu prevejo, por conseguinte, é que o destempero vai ascender a um novo patamar de irracionalidade.
Entretanto, o verdadeiro problema que se coloca, pelo menos para os europeistas como eu, é este: como criar instituições democráticas centrais europeias com legitimidade para conduzir políticas económicas e sociais progressivas? O mais preocupante para mim é que não só a chamada Constituição Europeia não aponta neste sentido, como reforça mesmo a tendência oposta.
Digam-me lá com franqueza: o que é que há de democrático neste super-estado europeu que se está a formar sob os nossos olhos?
28.11.03
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