19.11.03

O sensacionismo

«O que sente? O que sentiu? Qual é a sensação?» Perguntam ansiosos os reporteres a José Mourinho na inauguração do Estádio do Dragão, ao jornalista da TSF libertado dos seus captores, ao condutor ainda azamboado por um choque frontal.

Sabem lá eles, pobres infelizes apanhados à má fila, descrever o que sentem. Nada é menos imediato, menos elementar, menos primitivo do que a expressão de uma sensação. A verbalização das nossas sensações é-nos ensinada, pelo que, contrariamente ao que se pensa, os analfabetos são as pessoas menos indicadas para nos falarem delas.

A inteligência e a cultura são a matéria-prima das sensações; sem elas, o que há são vagas impressões, picadelas ou comichões.

É preciso ser-se um Proust para se conseguir dizer o que se sente. Mas não é certamente isso que os reporteres esperam ouvir.

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