18.9.04
No desaniversário de John Stuart Mill
James Mill, o pai de John Stuart Mill, foi, a par de Bentham, uma das figuras de proa do utilitarismo, uma filosofia política radical inspirada no iluminismo e no republicanismo francês.
James orientou toda a educação do seu filho segundo as rígidas normas dos princípios filosóficos dos utilitarismo. John, uma criança prodígio, começou a aprender grego aos três anos de idade e latim aos oito. Com doze anos escrevia pequenos tratados de história antiga. Aos treze dedicou-se ao estudo da lógica, de que em breve se tornou um grande especialista. Com tudo isto, não convivia praticamente com crianças da sua idade fora do ambiente familiar.
Ao entrar na idade adulta, apercebeu-se subitamente de que se tornara num pequeno monstro por força da ausência de uma educação sentimental adequada. Descobriu que não tinha objectivos na vida e mergulhou numa profunda depressão.
A pouco e pouco conseguiu libertar-se da ideias do seu pai. Mas foi o seu encontro com Harriett Taylor que de facto mudou a sua vida. Harriett era, para escândalo geral, uma mulher casada, com quem só pôde contrair matrimónio muitos anos mais tarde.
Mill descobriu que o hábito ou mania da análise tende a destruir os sentimentos e que a aceitação de leis rígidas, morais ou outras, estiola o pensamento. Concluiu que as chamadas verdades morais universais não passam, as mais das vezes, de preconceitos disfarçados. Decidiu «renunciar definitivamente à perigosa palavra necessidade».
Concebeu então um sistema de pensamento liberal original, dado que o seu liberalismo era uma exigência, não uma doutrina. Segundo John Stuart Mill, a pluralidade não só de formas de pensar como de formas de viver torna-nos mais fortes, tanto individual como colectivamente, porque só o confronto de perspectivas distintas permite seleccionar as melhores e rejeitar as piores. É por isso que o princípio da proliferação é benéfico e deve ser promovido.
Isso coloca também exigências particulares a cada um de nós, dado que o valor das nossas opiniões tem que ser permanentemente provado em competição aberta.
Esta variante de liberalismo tem uma preferência evidente pelas formas de organização política que fomentam a expressão de ideais opostos, por muito subversivos que eles possam ser para a ordem vigente. Nessa medida, tende obviamente a simpatizar com a economia de mercado.
Todavia, não é possível deduzir daí recomendações específicas sobre, por exemplo, qual deverá ser o grau de intervenção do Estado na economia e de que modo ele deverá ser exercido.
Como o pluralismo de Stuart Mill admite a existência de sistemas de valores diferentes e conflituantes igualmente legítimos, não restringe o debate à discussão dos meios mais adequados à prossecução de propósitos supostamente absolutos e universais. Os valores podem e devem ser questionados, o que torna impossível a elaboração de programas políticos e sociais prontos a vestir.
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1 comentário:
Excelente!
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