7.2.06

A guerra do cartoon

Um jornal dinamarquês muito dado a provocações chauvinistas e que trata usualmente os imigrantes como lixo acendeu o rastilho. Uma minoria de fanáticos islâmicos reagiu como seria de esperar, organizando manifestações pouco concorridas mas violentas e vistosas.

Coisas de grupelhos isolados, dir-se-ia. Mas não: gente que se esperaria mais ponderada entreteve-se a espalhar gasolina sobre as chamas.

Os governos europeus deveriam limitar-se a reafirmar que a liberdade de expressão não é negociável. A polícia britânica deveria prender e entregar à justiça os manifestantes londrinos que incitaram à "chacina" (butchering) dos europeus e à repetição dos atentados de 7 de Julho. A Síria deveria ser chamada à pedra pela destruição que causou nas embaixadas escandinavas de Amã e Beirute. Os dinamarqueses deveriam discutir entre si se querem fomentar o terrorismo no bairro ao lado. A Europa deveria ponderar se faz sentido continuar a deixar entrar imigrantes islâmicos que não sabe como integrar. Os líderes muçulmanos europeus deveriam ter tornado claro de que lado estão. A Turquia e a Igreja Católica deveriam ter ficado caladas.

Tudo o mais esteve a mais.

Os nossos neocons domésticos - uma espécie de ornitorrinco do reino humano - zangaram-se com George W. Bush pelas atitudes apaziguadoras da administração americana. (Pudera, quer retirar do Iraque até ao Natal!)

O problema é que muita gente, a Leste como a Oeste, já não satisfaz os seus instintos guerreiros com rituais de pancadaria nos campos de futebol e trocas de insultos entre dirigentes desportivos à segunda feira. Em vez de se demarcar de comportamentos marginais minoritários, a maioria deixa-se arrastar por eles para uma escalada de consequências imprevisiveis. Quer guerra, e, por conseguinte, há-de tê-la - nem que seja por causa de uns cartoons.

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