A abstenção é por vezes abusivamente interpretada como um voto de protesto contra um estado de coisas globalmente considerado. Por muito que pese a Saramago, essa opinião não é corroborada pelos factos.
Em geral, as pessoas que não votam agem assim porque a votação não lhes interessa ou porque não têm suficiente confiança no seu próprio discernimento.
Porque tem então aumentado a abstenção na generalidade das democracias? No passado, os eleitores encontravam-se esmagadoramente enquadrados em grupos de referência que orientavam ou mesmo impunham um sentido de voto. À medida que a influência desses grupos se dilui, os indivíduos ficam entregues a si próprios. Em consequência, não sabem como votar - e abstêm-se.
Por regra, quanto menos socialmente enquadrada uma pessoa se encontra, maior a probabilidade de que se abstenha.
A aprofundar-se esta tendência para o aumento da abstenção, é possível que a prazo possa daí resultar um perigo para a democracia. Mas é preciso considerar a outra face da moeda: na medida em que os abstencionistas não têm qualquer opinião válida que valha a pena ser expressa, o aumento da abstenção traduz na realidade a libertação dos indivíduos em relação aos grupos de pressão organizados (fossem eles a Igreja ou os sindicatos) que anteriormente manipulavam os votos das pessoas.
Mais abstenção pode, por isso, traduzir-se em decisões mais informadas e, portanto, em aumento da qualidade da democracia.
13.2.07
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