21.6.08
O não sei quê e o quase nada
Acho fascinantes as explicações que leio e escuto para a derrota portuguesa face à Alemanha.
A estratégia do seleccionador alemão foi brilhante. O anúncio da ida de Scolari para o Chelsea desmoralizou os jogadores. A equipa entrou medrosa no jogo. Não temos pontas de lança. O guarda-redes é muito fraco nos cruzamentos. Os suplentes não estão à altura. E assim sucessivamente.
A posteriori, o resultado de um jogo de futebol parece uma coisa tão lógica e natural que, independentemente das incidências do jogo, quase somos levados a crer que estava escrito que as coisas teriam forçosamente que ter sido como foram. Em nenhum outro domínio parece fazer tanto sentido o fatalismo.
Considere-se, porém, o seguinte:
1. Uma reacção inteligente de um ou dois jogadores, alterando ligeiramente a sua posição em campo, teria permitido desarmar a táctica germânica.
2. Jogadores habituados às exigências da alta competição e apostados em serem campeões da Europa não se deixariam normalmente abater pela saída do treinador no final do torneio.
3. Uma entrada cautelosa no jogo não é pior do que uma entrada confiante.
4. Desta vez, os pontas-de-lança marcaram dois golos.
5. Não conheço nenhum guarda-redes capaz de impedir aqueles golos alemães.
6. Os suplentes construiram e concluiram a jogada do segundo golo português, e mantiveram a equipa alemã em estado de alerta até ao último segundo da partida.
Mas, acima de tudo, é forçoso reconhecer que, se João Moutinho não tivesse falhado um tento fácil quando o resultado se encontrava ainda empatado a zero, tudo se teria provavelmente passado de um modo distinto.
Não me lembro de ver uma equipa da Alemanha festejar de forma tão efusiva uma vitória sobre a selecção portuguesa, ainda por cima nuns meros quartos de final. Aparentemente, eles acharam o desafio mais difícil do que os maníaco-depressivos que nos últimos dias sobre nós derramaram as suas análises.
A verdade é que, entre equipas fortes de nível idêntico, o resultado final depende de uma infinidade de não sei quês, que não só ninguém consegue prever a priori, como, mesmo a posteriori, é muito difícil entender plenamente. Perdemos por quase nada, do mesmo modo que, doutras vezes, ganhámos sem saber como nem porquê.
O racionalismo mecanicista aplicado ao futebol é uma fraude ou, pior ainda, uma anedota.
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8 comentários:
Ainda bem que existe um Rui Santos na blogosfera. Tantos dias a ouvir tanto disparate e basta vir aqui para saber finalmente a verdade. Epá...que bom! tu sabes mesmo tudo.
Deixo aqui a minha Teoria ara fazer Companhia à sua. Vale.
Fomos EnRatados pela Alemanha!
Explico:
A Alemanha fez bluff no Jogo com a Croácia. ( A Croácia também saiu mascarada, como se bem viu no jogo com a Turquia. E viva a Turquia!)
O Jogo - Alemanha-Croácia - ao qual prestamos a atenção errada ( o Scolari especialmente, ele e os jogadores) foi um jogo de engodo - foram simuladas falsas fragilidades, para mascarar as verdadeiras.
A Alemanha apostou bem! Mais vale uns Lusos-folgazões e semi-iludidos com as pseudo-fragilidades Alemãs ( Daí! O muito inteligente 2 lugar no seu grupo) do que uns Lusos-em-crescendo-de-confirmado-favoritismo-com-pózinhos-de-conquistadores-dos-mares-&etc. e mais perigoso: com a informação certa sobre o valor da Alemanha. BOM BLUFF!
Fomos ingénuos. Claro que as histórias dos frangos no quintal do Ricardo devem ter chegado à Alemanha. ( Não esquecer que o Ricardo tirou os 3 à Inglaterra!!!)
Conclusão: fomos EnRatados, puros e singelos Ratos na armadilha Alemã. Não é só o CR que está agora com o chupa a mão! ...
PS.: Foi um Ale-MANHA – Portugal. Viva a Turquia!
Excelente texto, uma análise ponderada e precisa. Mas não resisto a deixar aqui a minha contribuição à lista de análises maniaco-depressivas;
- Erro de Scolari em poupar os titulares no jogo anterior... perderam ritmo e entrosamento.
"5. Não conheço nenhum guarda-redes capaz de impedir aqueles golos alemães."
Aquelas bolas ia o Vítor Baía buscá-las com a maior tranquilidade do mundo, de tal forma que não chegava sequer a ser uma oportunidade de golo. Talvez tenha sido precisamente por essa falta de dramatismo que agora não ocorre ao João Pinto e Castro. Ou então estava a falar de guarda-redes no activo...
"Ponto 5"?!!??
Peter cech, Bufon, Hilário, Quim, Vitor Baía, Pedro Roma, Nuno e talvez o Rui Patrício.
No mínimo, qualquer um destes guarda-redes referidos e tantos outros (Casillas, Reina, Coupet, Frey, Lehman - O Khan hoje em dia talvez se atrapalhasse - etc.) abordariam este lance de olhos abertos, o que poderá parecer uma afirmação revolucionária mas é um pormenor que confere uma certa vantagem competitiva aos praticantes em causa.
E atenção que estamos a cair no erro de referir apenas grandes guarda-redes, como se aqueles fossem lances de um elevadíssimo grau de dificuldade, o que não é verdade. Lances como o do terceiro golo dariam direito a vaias em qualquer clube da primeira divisão portuguesa!
Já vi que anda por aqui muito entendido. Um dia destes tendes que que dar uns conselhos ao Mourinho.
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