Louçã afirmou ontem no Parlamento – eu ouvi – que o governo já gastou 1% do PIB para salvar o BNP.
Que verdade há nisto?
Eis os factos. A nacionalização do BNP não envolveu o pagamento de qualquer indemnização aos seus accionistas. A CGD concedeu-lhe posteriormente um empréstimo para fazer face às suas dificuldades de liquidez.
Quanto dinheiro foi então pago pelo Estado ao BNP ou aos seus accionistas? Nenhum. Nada. Zero.
Qualquer pessoa familiarizada com a diferença entre doação e empréstimo entende isto; mas o Dr. Louçã, que é professor de economia, finge não compreender.
Alguns apoiantes do Bloco de Esquerda defendem Louçã argumentando que o Governo ainda não deu, mas vai dar. Ao melhor estilo da imprensa tablóide, baralham factos com previsões.
Terão razão?
Esta especulação recrudesceu quando se soube que o BNP tem um “buraco” de 1.800 milhões de euros. “Cá está!”, dizem eles, “Vai ser o Estado, logo os contribuintes, a tapar o buraco, visto que os activos do banco são insuficientes para resolver o problema”.
Qual a origem das dificuldades financeiras do BNP? Aparentemente, o banco endividou-se para adquirir activos financeiros que entretanto se desvalorizaram fortemente. Assim sendo, não está em condições de fazer face aos encargos contraídos.
Significa isso que não resta outra solução senão o Estado pagar essas dívidas? Para esclarecer este ponto seria indispensável conhecer-se em detalhe a estrutura da dívida, ou seja, como foi ela financiada e quando terá que ser paga. Falta também saber-se quais dos activos financeiros detidos pelo BPN são susceptíveis de virem a valorizar-se no futuro e quando isso acontecerá.
Por outras palavras, não é possível estabelecer-se neste momento se a operação de nacionalização do BPN virá a saldar-se por um lucro ou por um prejuízo. O Dr. Louçã e o Prof. Karamba, porém, já sabem.
Mas há outro ponto. O Dr. Louçã mostra-se muito alarmado com o buraco de 1.800 milhões de euros, embora insista em negar que o risco sistémico justificasse a intervenção do Estado. Quando lhe dá jeito à argumentação, o buraco é grande; caso contrário, é pequeno.
Isto permite-lhe ignorar duas coisas.
Primeiro, que os tais 1.800 milhões de euros são devidos a outras instituições, e que, se o BPN não os pagasse, isso teria consequências.
Segundo, e ainda mais grave, o BPN tem 5.500 milhões de euros de depósitos, também eles titulados por empresas e particulares. Tendo em conta que o Estado português garantiu todos os depósitos bancários até ao limite de 100 mil euros, parece lógico admitir-se que a pura e simples falência do BPN teria sempre encargos mais elevados para os contribuintes, mesmo no caso extremo de ser necessário pagar por inteiro os tais 1.800 milhões de euros.
A finalizar, eu gostaria que o Bloco de Esquerda me explicasse qual a sua opção preferida para lidar com o problema do BPN:
a) Não fazer nada, como pretende agora o PSD e sustentam os republicanos nos EUA?
b) Socorrer os bancos sem que o Estado use a legitimidade que essa intervenção lhe confere para apertar o controlo sobre a sua gestão, como Obama está a fazer?
c) Nacionalizar os bancos insolventes, como fizeram, entre outros, os governos inglês e português?
Nada disso. O meu prognóstico é que o Bloco optará antes por convocar uma manifestação de protesto contra os banqueiros.
Que falta de paciência para aturar garotos.
12.2.09
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6 comentários:
Boa análise - factual e com as continhas (embora necessariamente limitada aos "grandes números") correctas.
O que foi feito chama-se, simplesmente, bom senso, com o objectivo de prevenir males maiores.
Como se diz, "teve que ser e o que tem que ser, tem muita força".
A propósito (?) - porque será que, quando a GNR fecha uma estrada com neve e gelo, surge o argumento que, "aqui ao lado" isso não acontece e todos "passam", mas se a estrada não for fechada, "ai ai que os automobilistas foram imprudentemente deixados à sua sorte.
Eu com garotos não perco tempo, você perde porque será? será porque o "partido do garoto" nas sondagens tem 12% e tira a maioria ao PS?
E os PPR que havia no BPN? que não estariam garantidos pelo estado, e que creio num volume elevado?. Já imagino os títulos dos jornais, as reportagens da TVI, as acusações na AR, as poupanças de toda a vida desaparecidas e os malvados do governo que são isto e aquilo e o bloco a berrar, enfim, business as usual.
Ele se se revolta é porque tem razão,
Porque é que o Governo ajuda banqueiros e nao quer saber das Pequenas , Médias e tb grandes empresas que todos os dias fecham?
É de uma pessoa se revoltar
Demagogia economica, vinda de um professor de economia.
Muito bem mesmo! Assim fica clarinho como água! mas continua a assaltar-me uma pergunta: Partindo do pressuposto que o Dr. Louçã não é própriamente burro, nem estará mal informado, porque razão insistirá naquelas posições tão populistamente idiotas? Levar atrás descontentinhos crónicos ao jeito do anterior "anti PS" ? Um Bloco de ESquerda a debitar pensamento político assim ?! Qual a diferença para o PP do Dr. Portas ? Apenas nas saudades ao Trosky ou ao Salazar ?
Parabéns pelo Blogue cuja leitura acho imperdível.
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