31.12.07

Quem irão eles financiar?

Resumindo a coisa ao essencial, o que se passou na última década na economia mundial foi o seguinte:

1. Alguns países do Terceiro Mundo (com a China e os produtores de petróleo à cabeça) estavam ansiosos por emprestar os excedentes financeiros gerados pelas suas economias.

2. Os EUA estavam ansiosos por endividarem-se.

Juntando-se a fome com a vontade de comer tivemos assim na América uma bolha económica prolongada que os especuladores se empenharam em fazer crer eterna. Aos financiadores convinha-lhes também acreditar nisso na ilusão de que as suas exportações beneficiariam de uma procura em perpétua expansão.

A crise do sub-prime foi o sinal de que, tendo o último tolo pedido emprestado o último dólar, a capacidade de endividamento da América se esgotara.

De modo que, agora, as coisas põem-se nestes termos:

1. Os países excedentários hesitaram por muito tempo em deixar cair o dólar, porque isso implicaria a desvalorização dos seus activos naquela moeda. Mas renderam-se por fim ao inevitável, e procuram agora aplicações alternativas para o seu dinheiro.

2. Porém, a menos que o crescimento europeu acelere, não haverá mercado nem para a indústria chinesa nem para o petróleo russo, iraniano e venezuelano. A prazo, os excedentes financeiros no passado gerados por esses países secarão.

Logo, a questão é esta: para onde irão agora os imensos capitais que durante anos fluiram para os EUA?

Convém notar que os movimentos de capitais das últimas duas décadas foram uma aberração em termos históricos. Usualmente - era a isso que se chamava imperialismo - o capital deslocava-se dos países ricos para os países pobres; no passado recente passou-se o contrário, com as multidões miseráveis a financiarem o consumo da maior potência económica do mundo.

Os movimentos de capitais sempre tiveram consequências políticas. Agora terão também motivações políticas directas, dadas as ambições de afirmação internacional da China, da Rússia, do Irão e da Venezuela e dados os sistemas de poder político-económico vigentes nesses países.

Poucas vezes o futuro da economia mundial esteve tão dependente de decisões directamente inspiradas em considerações de política internacional e em alianças geo-estratégicas à escala mundial.

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