28.12.07

À saúde do BCP

Aceito que se bata no ceguinho quando ele é um safado matreiro que não hesitará em rachar-nos a cabeça com a bengala se nos apanhar distraídos.

Não sendo esse o caso, incomoda-me ver tanta gente que durante anos adulou o fundador do BCP colaborar na sua diabolização quando sabe que já nenhuma benesse poderá esperar daquelas bandas. Ai dos vencidos|

É, também por isso, este o momento ideal para dizer que admiro Jardim Gonçalves e o modo como em pouco mais de uma década pôs de pé o maior banco privado português e revolucionou o nosso sistema financeiro.

Sinto a obrigação de afirmar isto, em primeiro lugar, porque, ao longo de uma meia dúzia de anos, coincidentes com o período heróico do banco, uma parte substancial do meu ordenado foi indirectamente pago pelo BCP, e eu tenho por princípio não morder a mão que me alimentou.

Mas digo-o também porque é bom não esquecer que o banco de Jardim Gonçalves foi durante muito tempo um caso aparte de profissionalismo e capacidade empresarial num país em que eles tanto escasseiam.

Quem, como eu, trabalha na prestação de serviços de marketing às empresas, pergunta-se frequentemente se ficará algum rasto daquilo que anda a fazer. Na esmagadora maioria dos casos, a resposta é um enfático e melancólico não; mas recordarei sempre com orgulho e satisfação aqueles anos em que dei a minha modesta contribuição para ajudar o BCP a trucidar a concorrência, de forma metódica e implacável, introduzindo sucessivas inovações que facilitaram a vida a todos nós.

Para quem já não se lembra: foi preciso aparecer a NovaRede para toda a gente ter direito a usar um cartão Multibanco no seu dia a dia sem discriminações nem complicações burocráticas.

Eu sei que, com o tempo, o BCP tornou-se num banco como os outros. É natural e compreensível: também eu, com a idade, me tornei mais como os outros.

Acredito também que deverão ter fundamento algumas das acusações de irregularidades que agora são dirigidas contra a administração do BCP, e, muito embora eu permaneça disposto a pôr as mãos no fogo por alguns dos actuais suspeitos, espero que seja punido quem deve ser punido.

Seria porém lamentável que a opinião pública se resignasse a deitar fora o bébé com a água do banho. Jardim Gonçalves não era um anjo, o BCP nunca foi perfeito e as circunstâncias políticas ajudaram muito ao seu êxito. Tudo isso e muito mais é verdade. Ainda assim, só temos todos que esperar que o seu exemplo faça escola.

Este é um daqueles casos em que o respeitinho é muito lindo.

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