15.1.04
Até ao fim da noite
Que bem escreve Céline! E que repelente o seu estilo que degrada tudo aquilo em que toca!
As pessoas, as coisas e as situações são aviltadas por esta escrita, espécie de niilismo metódico que só se realiza na destruição.
É um mundo sem esperança o seu, todo ele maldade e estupidez, de que o próprio narrador participa sem resistência. A única redenção possível que reconhece parece residir nessa forma particular do riso que é a paródia apocalíptica.
Certamente, está implícita nesta escrita uma atitude reflexiva, dado que Céline se distancia do mundo pelo artifício de uma gélida objectividade aparentemente despida de todo e qualquer sentimentalismo.
Mas o autor-narrador não se distancia do mundo pelos seus actos. Por isso, o diagnóstico confunde-se com a prescrição. Ao nonsense do mundo responde ele com o nonsense. À brutalidade com a brutalidade. Ao sórdido com o sórdido. Céline é uma instância quase única de niilismo literário.
Por tudo isso, entende-se a fascinação do autor pela força como vontade de poder e pelo anti-semitismo, bem como a sua repulsa pela «normalidade burguesa». Hannah Arendt mostrou de modo convincente como o fascínio de certos intelectuais pela ralé contribuiu para tornar respeitável o nazismo. Essa estética da degradação permanece aliás muito popular nos dias que correm.
Há, não duvidemos, uma ética do estilo, bem visível pela negativa no caso, reconhecidamente extremo, de Céline.
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