Somos um país de mau ensino e maus professores, por esta ordem.
Contam-se pelos dedos da mão de um maneta os bons professores que tive na faculdade. O célebre Alfredo de Sousa, por exemplo, limitava-se a abrir as folhas e a lê-las em voz alta (vá lá, que não lia em voz baixa). O que sei pelos meus filhos revela-me que as coisas não evoluiram muito.
O curioso é que as opiniões dos professores incompetentes, esses que detestam a pedagogia, odeiam as ciências da educação e bradam por mais e mais autoridade nas salas de aura (onde autoridade, aliás, é muitas vezes a única coisa que há), têm uma grande aceitação nos nossos media.
A ideia deles, a única ideia deles, a ideia fixa deles, a monomania deles é que o defeito capital do nosso ensino é o chamado facilitismo. Aliás, facilitar a vida ao povo tem sido o pecado reincidente da modernidade, com o seu desprezível cortejo de perniciosas ilusões democráticas, libertárias, igualitárias e socialistas.
Mas alguém acreditará verdadeiramente que as competências matemáticas dos nossos estudantes melhorarão por milagre se os professores reprovarem uma maior proporção deles?
Não sei se já repararam que o «facilitismo» para os alunos é o «dificilitismo» para os professores, e vice-versa. Ou seja, facilitar o processo de aprendizagem é precisamente a forma de aumentar a sua produtividade, mas exige mais capacidade e mais esforço da parte dos professores e das escolas.
Por isso, esses professores que tanto bradam contra as pedagogias que têm em vista motivar e aliciar os alunos para o estudo parecem-me ser, afinal, os verdadeiros facilitistas, porque querem facilidades para si mesmos e não para os outros.
O nosso ensino é uma tristeza, mas o mais deprimente de tudo é o tempo de antena de que disfrutam pessoas que, apesar de não terem a mínima competência para se pronunciarem sobre estes assuntos, não se cansam de incensar em tom empolado o reino da estupidez.
15.1.04
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