17.1.04

O fim

Sampaio ofereceu de mão beijada ao PS a possibilidade de se limpar de uma vez por todas da suspeita de que é um partido no qual o eleitorado não pode confiar em matéria de controlo orçamental.

Recorde-se que a mensagem do PR à Assembleia da República só afirmava coisas com que ninguém pode deixar de concordar: que o desemprego e a recessão são coisas más e que, para se evitarem políticas conjunturais perversas, é melhor programarem-se as contas públicas num horizonte de vários anos. A uma mensagem destas o PS só tinha que responder que sim senhor -- e lançar-se ao trabalho.

Mas trabalho é, pelos vistos, uma palavra perigosa. Em vez disso, o PS começou por tentar usar a mensagem do PR como um argumento de pequena política destinado a provar que «o PS tinha razão nas críticas que tem feito ao governo».

Em seguida, propôs a criação de um grupo de trabalho para analisar a sugestão do Presidente, como se não existisse já uma Comissão Parlamentar de Economia e Finanças. O que ao PS competia era avançar rapidamente com propostas concretas mas, como não fez nem quer fazer o trabalho de casa, tornou-se evidente que não tem nada de relevante a adiantar sobre o assunto.

A concluir, Ferro decidiu hoje condicionar um acordo sobre as linhas gerais do controlo das contas públicas a um outro acordo sobre o conteúdo da política orçamental. E isto, de facto, é o cúmulo dos absurdos, designadamente porque o essencial da proposta de Sampaio consiste precisamente em sugerir que o acordo sobre o controlo do déficite orçamental não impede, bem pelo contrário, o desacordo sobre o conteúdo das políticas económicas e sociais a prosseguir.

Sobre esse conteúdo não pode nem deve haver acordos «de regime», porque eles só serviriam para esbater as diferenças de orientação partidária que, saudavelmente, devem persistir.

A inabilidade política com que a direcção socialista conduziu mais este processo prova que o tempo de Ferro Rodrigues chegou, sem margem para dúvidas, ao fim.

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