6.5.04

Depor Import-Export



Todos os grandes países da Europa Ocidental -- Alemanha, Itália, França e Inglaterra -- foram já campeões do Mundo de futebol. Todos, excepto a Espanha.

O problema fundamental é de matéria-prima.

Nós temos dois jogadores -- Eusébio e Figo -- que cabem sem favor na lista dos melhores de todos os tempos. Os franceses, metem lá pelo menos Kopa, Platini e Zidane. Os ingleses, Stanley Matthews e Bobby Charlton. Os holandeses, Cruyff e van Basten. Os húngaros, Puskas. Até os alemães, que nascem com os pés tortos, contribuem com Beckenbauer. Os italianos, não vale a pena contar. Os brasileiros, esses, fornecem uma camioneta de artistas da bola.

Só os espanhóis não têm ninguém -- absolutamente ninguém -- para apresentar na galeria dos grandes futebolistas mundiais.

Vai daí, tratam de importá-los, a poder de muito dinheiro, e só assim conseguem formar equipas para competir nas provas da UEFA, orientadas por grandes treinadores com nomes exóticos como Cruyff, Cappelli, Robson ou Antic.

O Barcelona, em particular, é uma das maiores anedotas do mundo futebolístico. Todos os anos despende um orçamento superior ao de todas as equipas portuguesas de todos os escalões juntas, mas, apesar disso, o seu palmarés internacional está abaixo do do Benfica e ao nível do do FCPorto.

Quando, em meados dos anos 90, finalmente conseguiu formar uma equipa capaz de ganhar a Liga dos Campeões, tratou de desmontá-la na temporada seguinte para contratar outros jogadores «melhores». É natural que, num clube assim, os grandes jogadores como Figo e Ronaldo não pensem senão em pirarem-se de lá para fora.

O Real Madrid é outra coisa. Apesar disso, também vive da contratação de vedetas que ocultam a falta de jeito dos espanhóis para dar pontapés na bolsa. Com as verbas recebidas da autarquia madrilena resolveram comprar tudo o que luz com o objectivo de serem uma espécie de selecção mundial.

Nos últimos tempos, porém, viraram-se para o mercado das bailarinas, no fito de fazerem receitas com as comissões que recebem sobre os anúncios que o Beckham faz para a Vodafone e para os champôs. Os resultados estão à vista, e não vou agora entrar em detalhes.

Não tendo jeito para jogar, os espanhóis poderiam dedicar-se a assistir com competência. Ao fim e ao cabo, como dizia Borges, tem mais mérito um leitor capaz do que um escritor medíocre.

Mas não. Os ingleses aplaudem as suas equipas, mesmo que percam por cinco a zero, com a única condição de que manifestem espírito desportivo. Os adeptos espanhóis dos clubes ricos, pelo contrário, quando não ganham aos pichotes por cinco za ero, poem-se a abanar os lenços brancos.

Os incompetentes comentários da imprensa desportiva espanhola à eliminação do Depor demonstram que, como se não lhes bastasse não terem nem jogadores, nem treinadores, nem espectadores capazes, os nossos vizinhos também não têm jornalistas.

E não se pode importá-los?


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