O meu sobrinho, recém-chegado de Londres, ao ver na televisão um menino copo de leite a falar em nome do movimento "Portugal Positivo", perguntou-me: "Ó tio, isto é coisa do Governo, não é?"
Esta nova seita propõe-se nada mais nada menos do que elevar a auto-estima dos portugueses que, segundo a sua psicologia de pacotilha, anda muito por baixo.
Atitude positiva, costas direitas e muito optimismo -- eis tudo o que é preciso para levantar, hoje de novo, o esplendor de Portugal.
Na minha maneira de ver, estes bruxos modernos munidos de MBAs tirados em boas universidades propoem-se fazer o mesmo que o Professor Karamba anuncia nas páginas do 24 Horas -- mas levam incomparavelmente mais caro.
Ora este movimento (patrocinado pela Galp?) teve a triste ideia de convidar para a sua primeira sessão pública o Vasco Pulido Valente.
Segundo o Público, os fiéis ficaram de boca aberta ao ouvirem o Vasco dizer coisas destas:
"Os portugueses têm auto-estima a mais. Isto porque, apesar de se verem como atrasados, embora andem a tentar imitar outros países europeus, nunca se consideraram culpados do atraso português. Começou por ser dos jesuítas, passou para os absolutistas, chegou aos comunistas, sobrou para os fascistas e acabou nos políticos".
Vasco no seu melhor, como se vê.
Mas eu diria mais. Todos os testemunhos de quem no passado nos visitava revelam sem margem para dúvidas a secular arrogância dos portugueses no trato com os estrangeiros.
A mania da superioridade e a ausência de genuina curiosidade pelas coisas estrangeiras sempre foram -- e temo que continuem a ser -- um traço distintivo da nossa cultura de campónios invejosos e ressabiados.
Essas atitudes continuam, de resto, a manifestar-se hoje na falta de sentido das proporções com que falamos da história dos nossos descobrimentos, no exagerado papel que a nós próprios nos atribuimos, no modo como exaltamos, sem nenhuma noção real das coisas, o nosso futebol, a nossa literatura ou os nossos vinhos.
Este povo ensimesmado, absurdamente virado sobre si mesmo, a pontos de os seus noticiários televisivos não terem qualquer semelhança com os dos países que nos rodeiam, persiste hoje em auto-elogiar o seu pretenso "génio universalista".
Decididamente, o ridículo não mata.
21.5.04
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