19.5.04

Reparem, ele disse "mas"!

Fulano critica o atentado bombista que matou um ministro de Israel, mas, na mesma ocasião, critica também o exército israelita por arrasar as habitações de familiares ou meros vizinhos do tal bombista.

Sicrano horroriza-se com as torturas praticadas por soldados americanos na prisão de Abu Graib, mas, ao fazê-lo, recorda que os EUA são talvez a única nação que sistematicamente tem punido os crimes de guerra praticados pelas suas forças armadas.

De um lado e do outro da barricada escutam-se gritos irados de protesto contra o execrando mas: tentativa de branqueamento! relativismo moral! hipocrisia! etc., etc.

Parece-me claro, meus caros amigos, que está toda a gente a perder rapidamente o juízo. Desde quando é que é proibido, ou sequer desaconselhável, usar a palavra "mas"?

"Sim, mas" é a marca distintiva do debate civilizado. É o modo natural de expressão dos que sabem que, em questões complexas como estas, há sempre várias perspectivas relevantes de análise. Que não estamos perante um conflito simplista entre bons e maus. Que nem tudo é a preto e branco. Que certas condenações exaltadas não passam de demagogia irresponsável. Que a condenação unilateral de uma das partes pode servir para encobrir os crimes da outra.

Enfim, coisas da dialéctica -- um conceito que nem por ter passado de moda deixou de ser relevante.

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