4.5.04

Uma data

A América deve a Woodrow Wilson o voto feminino, mas também a proibição do álcool.

Quanto à Europa, beneficiou da sua decidida intervenção ao lado das potências aliadas na 1ª Guerra Mundial, mas teve, em contrapartida, que servir de cobaia ao primeiro ensaio americano de nation-building extra-fronteiras.

Um dos aspectos centrais da doutrina Wilson, consagrado no Tratado de Versalhes de 1919, era o direito das nações à auto-determinação, princípio que deveria servir de base ao desmantelamento dos impérios da Europa central e oriental e à criação dos novos estados.

Com a assinatura do tratado, 60 milhões de pessoas ganharam instantaneamente uma pátria, mas 24 milhões passaram não menos rapidamente a serem estrangeiros na terra onde residiam há gerações.

Este triunfo indolor e incondicional do nacionalismo, reforçado pela estranha aliança que estabeleceu com os marxistas de obediência leninista, abriu as portas a décadas de fanatismo e intolerância.

Ainda a tinta do tratado não estava seca e já haviam começado as limpezas étnicas, os internamentos das minorias em campos de concentração e as deportações em massa. Tudo práticas que Hitler mais tarde promoveria a um novo patamar de selvajaria.

Com o alargamento da UE concretizado no passado sábado, a Europa reunida volta num certo sentido à situação anterior a 1914, mas agora sem impérios, com a democracia liberal instalada em quase todo o continente e os velhos de problemas de fronteiras quase resolvidos.

Quase: porque, nos Balcãs, em Chipre e nos confins da Europa do Leste, os demónios do nacionalismo continuam à solta.

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