Conversando por aí, com este e com aquele, constata-se que já toda a gente entendeu que o país não tem actualmente nenhum governo.
Há apenas um sujeito, vagamente familiar, que regularmente aparece na televisão a anunciar que a retoma está a chegar, esquecendo-se no entanto de nos informar a que horas deveremos ir esperá-la ao aeroporto.
Este é um governo por omissão, à espera como nós, e como nós sem saber o que espera.
Todos os principais indicadores económicos se deterioram, a começar pelo famoso déficite orçamental e pelo endividamento externo em percentagem do PIB, sem esquecer as exportações, o investimento nacional e estrangeiro, a situação do comércio a retalho e o desemprego (aliás perversamente enviezado em desfavor dos mais qualificados).
O problema nem é tanto o «discurso da tanga». É a realidade da tanga, por estes dias bem visível nas comédias em torno das privatizações da Portucel e a Galp, a que o país assiste impotente e atónito.
Temos, então, não só um governo que cai aos bocados, como um aparelho de Estado que se esfarela perante os nossos olhos. A fragilidade das instituições públicas e privadas é flagrante, e esse é talvez o traço mais preocupante da situação actual.
Perante isto, o PS sustenta que é hora de mostrar um cartão amarelo ao governo nas eleições europeias.
Amarelo? Mas porquê amarelo? Em nome da estabilidade governativa? Mas haverá ainda alguma esperança razoável de a actual maioria inverter o curso das coisas e traçar finalmente um rumo?
Não será absolutamente evidente que o poder se encontra nas mãos de uma clique de amadores ignorantes das noções mais elementares da política e da economia, de uma seita de aprendizes de feiticeiros que, à beira do abismo, continuam a repetir uma litania ideológica destituída de sentido? Que o santo e a senha desta coligação são o atrevimento e a ignorância?
Para quê continuar a poupar este governo? Para quê conceder-lhe por mais tempo o benefício da dúvida? Porque sim?
12.5.04
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