17.5.04

Um conflito do nosso tempo

Os chamados neo-conservadores não gostam dos conservadores.

Porquê?

Porque, para eles, o conservadorismo é o permanente e manso derrotado na tentativa de conter a expansão do princípio democrático.

Porque, para eles, o conservadorismo é um aliado natural e estratégico do princípio democrático do ponto de vista estratégico, por muito que tacticamente procure opor-se-lhe.

Com o conservadorismo, a direita cede graciosamente, perde lenta e progressivamente o poder, porque não tem nenhum argumento de fundo contra o princípio democrático.

Pior ainda, à medida que a democracia se aprofunda, o argumento conservador -- segundo o qual é melhor não introduzir alterações radicais no sistema para evitar lançá-lo no caos -- começa a jogar a favor da própria democracia, tornando-se imprestável para a direita.

Daí a utilidade para os poderes instituídos da ofensiva neo-conservadora. Para travar o avanço do princípio democrático é preciso opor-lhe uma legitimidade distinta -- uma legitimidade revolucionária, mas de sinal contrário.

Ora o terror e a suposta irracionalidade são, na perspectiva neo-conservadora, argumentos de fundo contra a viabilidade da sociedade democrática.

Cada vez vamos ouvi-los mais nos tempos que se seguem.

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