Diz-se que a pobreza é envergonhada, mas em Portugal são os ricos que -- vá-se lá saber porquê -- vivem meios escondidos.
Pouco se sabe, de facto, sobre os Mello ou os Espírito Santo, mas Champallimaud bateu-os a todos em secretismo.
Ele nunca foi conhecido por dar entrevistas, intervir em mesas redondas, chamar os jornalistas para conferências de imprensa ou dirigir proclamações ao país.
Vai daí, ninguém sabe muito bem quem ele era, o que permite que circulem as lendas mais díspares sobre a personagem e a sua vida.
Segundo uns, era um homem irascível (defeito grave nos poderosos), desumano e insensível, o protótipo do capitalista explorador obcecado pela acumulação do capital como valor supremo. Segundo outros, um herói do empreendorismo, independente de espírito, desafiador do poder político antes e depois do advento da democracia, um self-made man que nunca deveu nada a ninguém, criador de postos de trabalho e de riqueza de que todos beneficiámos.
Para complicar tudo, legou uma fortuna à investigação científica, nomeando postumamente para o cargo alguém com quem só uma vez na vida falou -- ao telefone.
É de mistérios cuidadosamente trabalhados como este que se constroem lendas poderosas e duradouras.
19.5.04
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