18.2.05

A arte de argumentar com aspas

Vasco Pulido Valente gosta muito de aspas, uma forma ardilosa de incutir certos preconceitos nos seus leitores. Hoje, escreve ele assim no Público:

«Esta situação não é provisória, nem fortuita. Não é provisória porque o país, como a «Europa», atravessa uma crise que põe em causa um «modelo social», que vem do século XIX, que foi universalmente aceite e que até agora se considerava adquirido, o «modelo» do Estado-previdência, protector e dirigista, que tomou sobre si uma parte incrível (e sempre em expansão) da vida individual e colectiva: esse Estado faliu e a sua agonia inaugurou uma época de incerteza, mudança e conflito.»

Isto é genericamente falso. Mas, curiosamente, basta mudar a localização das aspas para passar a ser verdadeiro:

«Esta situação não é provisória, nem fortuita. Não é provisória porque o país, como a Europa, atravessa uma crise que põe em causa um modelo social, que vem do século XIX, que foi «universalmente aceite» e que até agora se considerava adquirido, o modelo do Estado-previdência, «protector e dirigista», que tomou sobre si uma parte «incrível» (e «sempre» em expansão) da vida individual e colectiva: esse Estado «faliu» e a sua agonia inaugurou uma época de incerteza, mudança e conflito.»

Desconfio que o livro de cabeceira do Vasco Pulido Valente é o opúsculo de Schopenhauer «A arte de ter sempre razão», infelizmente traduzido para português com o hermético título «Dialética erística». E estou em crer que o Louçã lê pela mesma cartilha.

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