19.2.05

Este blogue vota PS

Não é nenhuma surpresa para quem costuma passar por aqui, mas não há como deixar as coisas muito clarinhas: este blogue vota PS.

Não é um voto entusiástico, mas também tampouco é um voto resignado no menor dos males.

Ao fim de três meses está perfeitamente claro como era infundado o preconceito posto a circular por Pacheco Pereira, António Barreto, Vasco Pulido Valente e outros que tais, segundo o qual Sócrates seria o alter-ego de Santana.

Evidenciada a absoluta má-fé dessa alegação, alguns apoucam agora as capacidades de Sócrates para exercer o cargo de primeiro-ministro, em comparação com outros que no passado desempenharam o cargo.

Mas quem foram afinal esses grandes primeiros-ministros que Portugal teve no passado? Mário Soares? As grandes virtudes de Soares não se revelaram certamente como condutor de governos, de tal forma que, da última vez que desempenhou o cargo, ele se tornou no homem mais detestado no país e deixou o PS à beira do colapso definitivo. Pinto Balsemão? Deixem-me rir! António Guterres? Como bem sabemos, o que lhe sobrava em inteligência e vivacidade argumentativa carecia-lhe dramaticamente em capacidade de liderança. Durão Barroso? A essencial mediocridade e ausência de ideias do personagem revelou-se fulgurante e plenamente em questão de poucos meses.

O único grande primeiro-ministro que Portugal teve em democracia foi, concorde-se ou não com as suas políticas, Aníbal Cavaco Silva.

E que poderemos então legitimamente esperar de José Sócrates? Sócrates é, em primeiro lugar, um homem sério, coisa que não se pode dizer dos seus principais opositores. Foi, no passado, um Ministro do Ambiente competente e lutador. Aceitou, num momento particularmente difícil, assumir a liderança do PS. Conduziu a campanha eleitoral com segurança e tranquilidade. Resistiu com firmeza às tentativas de fazê-la resvalar para a política suja. Isso é o que sabemos de positivo.

Dito isto, a condução política da campanha do PS foi medíocre, particularmente a partir do momento em que entrou no seu período oficial. Quero com isto dizer que, progressivamente, se diluiram as ideias-força que pareciam norteá-la, privando-a de um sentido estratégico evidente. Não falo da forma, falo do conteúdo.

Ora isso é preocupante, porque pode antecipar uma falta de consistência ideológica que mais tarde se reflectirá negativamente na acção governativa, quando o futuro governo de Sócrates se confrontar com as grandes escolhas.

Pode-se argumentar que há algumas boas justificações para isso.

Primeira: tendo sido surpreendido pela convocação de eleições antecipadas, o PS não pôde, como esperava, tirar todo o partido das «Novas Fronteiras», que deveriam desempenhar um papel fulcral na definição da linha política do partido.

Segunda: quando se tem um avanço tão grande nas intenções de voto, a estratégia mais recomendável consiste em deixar a iniciativa ao adversário e em esperar que ele cometa erros para explorá-los em nosso favor.

Terceira: comícios, debates televisivos, tempos de antena e contactos de rua não são certamente as ocasiões mais propícias para um debate ponderado de ideias políticas.

Aceito como bons esses três argumentos. Mas não posso deixar de pensar que o problema da orientação política do futuro governo se encontra ainda em aberto em relação a demasiadas questões.

Dito isto, o único caminho razoável consiste, neste momento em dar o benefício da dúvida a Sócrates, porque ele provou merecê-lo, votando no PS e esperando que conquiste a maioria absoluta.

Se essa maioria absoluta se concretizar, tratar-se-á depois de a opinião pública esclarecida manter a pressão sobre o PS para que à lógica míope do aparelho se sobreponha uma visão mais aberta e exigente. Sobre o que essa visão deva ser, já dei a minha opinião noutras ocasiões.

Para já, cada coisa a seu tempo. Próximo passo: maioria absoluta. O resto, depois se verá.

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