5.2.05

O divórcio entre comentadores e comentados

Nas últimas vinte e quatro horas, o assunto exclusivo desses interessantíssimos programas em que jornalistas entrevistam jornalistas, cujo protótipo é o Expresso da Meia Noite, consistiu em saber quem ganhou o debate Sócrates - Santana.

Ora o caso é que, ao inteiro arrepio do que revelam as sondagens junto do público, os jornalistas acham esmagadoramente que, por isto e mais por aquilo, sem que se chegue a perceber o que vem a ser isto ou aquilo, Santana ganhou o debate.

Os jornalistas têm um caso mal resolvido de fascínio pelo Santana Lopes. Achavam - e ainda acham - que, independentemente das suas evidentes fragilidades enquanto governante, ele é um grande comunicador e que, por conseguinte, está ali o protótipo do político moderno tal como eles o concebem. Olham para ele, e é como verem-se ao espelho.

Não me esqueci de que, ainda há menos de um ano, não havia um único dos que conheço que não o considerasse imbatível em eleições e que não me lançasse um olhar de profundo desprezo se ousasse exprimir alguma reticiência.

Três ou quatros meses afinal chegaram e sobraram para todo o país compreender o grandessíssimo tolo que ele é, ombreando com as mais representativas figuras do género de toda a nossa já longa história.

Mas os jornalistas serão, como está à vista, os últimos a admitir sem ambiguidades essa verdade. Porque, para eles, Santana é o símbolo vivo da república mediática em que eles acreditam, fruto da imagem e da comunicação.

Por isso ainda lhe constroem imaginárias vitórias onde milhões de cidadãos comuns apenas conseguiram ver o mais recente episódio de um prolongado naufrágio.

Sem comentários: