O primo Damião já fizera trinta anos mas ainda não encontrara ocupação certa. Era contra os patrões e o casamento. Na taberna, explicava o que se devia fazer para endireitar o mundo. Quando bebia demais, proclamava-se comunista. Felizmente para ele, a polícia nunca o tomou a sério.
O Freitas anunciava que, quando o cosmonauta Gagarine subira aos céus, não encontrara por lá Deus, e que, com a conquista do espaço, a União Soviética demoliria as superstições populares. Dizia-se que o Freitas era comunista.
O Manuel João era o único miúdo do liceu que não participava nas actividades da Mocidade Portuguesa com a desculpa de não ter farda. Chamada ao liceu, a mãe alegou que não tinha dinheiro para comprar-lhe o uniforme porque o pai fora preso sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista.
Quando se aproximavam as eleições, o Serra aparecia lá em casa com uns abaixo-assinados a pedir a libertação dos presos políticos. O Serra tinha ar de quem não fazia mal a uma mosca, mas nós sabíamos que ele era comunista.
O senhor Sacavém, chamemos-lhe assim, fora preso e torturado. Ficou com o estômago desfeito de modo que só podia comer papas. Preocupava-se muito com a falta de respeito da juventude.
Na Igreja S. João de Brito havia um cine-clube onde assistíamos a filmes do Bergmann e do Hitchcock. Na última fila sentava-se um pide que andava por ali à coca de comunistas.
O Zé era de uma família rica com propriedades em Angola. Como era comunista, a mãe tinha que lhe garantir que o dinheiro da mesada não vinha das roças.
Estes foram alguns dos supostos comunistas que eu conheci.
14.6.05
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