24.6.05

Noite de Santo António

«Caía a noite quando cheguei ao grande pórtico [do Mosteiro dos Jerónimos], e achei o largo fronteiriço começando a iluminar-se com o vívido clarão de um renque de fogueiras acesas à beira do Tejo. Custou-me a chegar à minha carruagem sem ser chamuscado pelos busca-pés e bombas, e desejei ver-me logo fora dela, porque as mulas espantaram-se furiosamente com um foguete, que lhes rebentou mesmo debaixo dos focinhos.

«Contava não dormir aquela noite, a não ser que um milagre de Santo António me acalentasse o sono, tal era o estrondo dos fogos-de-artifício, o clarão das fogueiras e os toques de gaita de foles, em honra do dia de amanhã, o 555º aniversário do memorável dia em que o santo de Lisboa passou a gozar, por uma ligeira transição, as alegrias do Paraíso!

«Profusamente adornada de flores, e alumiada com círios e velas, vi a sua imagem à porta de todas as casas, e até nos alpendres e nas mais pobres barracas desta populosa capital.»

William Beckford, Viagens a Portugal, 1787.

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