A vida de Álvaro Cunhal revela exemplarmente as consequências nefastas de um excessivo sentido do dever.
Quando um indivíduo se deixa guiar por uma ideia absoluta do bem e do certo, isso acaba por se revelar nefasto para ele e para os que o rodeiam, dado que nada nem ninguém são autorizados a interporem-se entre ele e essa fantasia que não admite contradição, na medida exacta em que ela parece ditada por uma força superior e impessoal.
Uma pessoa com as suas fraquezas, logo mais humana, não corre tais riscos. A sua disposição para cair em tentação e cometer pequenos pecados protege-a de cometer pecados maiores e de converter o anseio do bem numa força destruidora.
Acima de tudo, não corre o risco de colaborar na sua própria auto-aniquilação, na violentação da sua individualidade e do seu direito à felicidade em nome da santidade do martírio.
O imperativo categórico pode tornar-se numa perigosa força assassina quando não reconhece os seus limites. O absolutismo moral não se torna mais recomendável por assumir as vestes do rigor, da coerência, da persistência e da lealdade.
Em matéria de moral como em matéria de venenos, é tudo uma questão de dose.
16.6.05
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