8.6.05

Os novos inocentes úteis

Finalmente, ouço alguém afirmar que o Não francês também foi dirigido contra nós, um nós vastíssimo que inclui portugueses, polacos, turcos e demais povos exóticos.

O mais preocupante nos referendos francês e holandês não foi a recusa do tratado, porque é evidente que esse problema pode ser resolvido - e eventualmente melhor resolvido - de outras maneiras.

O que é grave é que o chauvinismo latente em vários países europeus encontrou finalmente, após tantos anos na mó de baixo, uma forma eficaz e politicamente significativa de se exprimir e de condicionar o futuro do Continente.

No esencial, o Não francês e holandês foi um voto nacionalista, chauvinista e racista, como, por muito que os anglófilos se recusem a vê-lo, também o é a ameaça do Não britânico.

Eu compreendo perfeitamente que pessoas que abominam essas ideologias estejam, por razões muito respeitáveis de que em parte comungo, contra a aprovação do tratado.

Mas é esta a altura de elas reconhecerem que, não se travando a luta política nas circunstâncias que nós preferiríamos, mas naquelas que efectivamente são dadas, a persistência numa posição irredutível de bloqueio à reforma política das instituições europeias levá-las-á a desempenhar o papel de inocentes úteis em todo este processo.

O Não que ganhou não foi o vosso.

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