18.7.05

Chantagem ideológica

No seu artigo da passada semana no Público, Pacheco Pereira escrevia:

«Acima de tudo, não compreendo porque razão um terrorismo apocalíptico, que tenta por todos os meios ter as armas mais pesadas, nucleares, químicas e bacteriológicas, para garantir o seu Armagedão sacrificial, que tem como objectivo a guerra total, ou seja a aniquilação de milhões dos seus adversários, haja os meios para isso, não tem que ser combatido com tudo o que tenho á mão: tropas, polícias, agentes de informações, à dentada diria um velho inglês da Home Guard, daqueles que esperava a invasão da sua ilha e achava que sempre podia levar um «boche» consigo. E aí o «não se limpam armas», é de um simplicidade brutal. Ou nós ou eles.»

Este tema é extremamente delicado. Merecia, por isso, uma discussão mais demorada e, sobretudo, mais cuidada, para a quel de momento me falta tempo.

Não posso, no entanto, deixar de perguntar: que terrorismo apocalíptico é esse de que PP aqui fala. Onde está ele afinal? Onde as armas «nucleares, químicas ou bactereológicas»? Onde a «guerra total»? Onde a «aniquilação de milhões»? Onde, que não os vejo?

Escapa-me totalmente a relação entre esta linguagem hiperbólica e os factos.

Existe mesmo esse terrorismo apocalíptico, ou será antes um mero produto de certas imaginações fertéis que, a coberto dessa fantasia, pretendem impor-nos uma agenda política e militar irracional e agressiva, estribada no medo e no ódio?

É que, bem vistas as coisas, nada semelhante a isso aconteceu ou, que se saiba, esteve, até hoje, para acontecer .

Nem eu nem ninguém prudente pode garantir que não irá acontecer um dia. Tudo o que posso dizer é que não se me afigura muito provável, tal como não se me afigura muito provável que amanhã me caia na cabeça um meteorito vindo do espaço, embora essas coisa aconteçam.

Por isso, ou estas pessoas explicam claramente de que elementos dispõem para poderem usar sem exagero esta linguagem alarmista, ou teremos que concluir que apenas pretendem colocar-nos sobre chantagem e impedir qualquer debate racional sobre os males do mundo.

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