Quem lê a primeira página de hoje do Público fica com a impressão de que o Banco de Portugal reviu em baixa as suas previsões para o comportamento da economia portuguesa em 2006.
Nada mais falso:
1. O BP mantém a previsão de crescimento de 1,2% do PIB adiantada em Agosto;
2. Sobe de 8,4% para 9% a estimativa de crescimento das exportações;
3. Reduz de 5,7% para 4% a do crescimento das importações;
4. Em resultado de (2) e (3), o défice da balança de transacções correntes desce de 9,4% para 7,6% do PIB;
5. A estimativa de crescimento do consumo privado desce de 1,3% para 1,1%;
6. A do consumo público, de 0,7% para -0,2%;
7. Finalmente, prevê agora uma maior queda do investimento (-3,2%) do que em Agosto (-1,2%).
É preciso ser-se muito tendencioso para não se vislumbrarem as boas notícias. Assim:
1. Não só o crescimento continua a basear-se na exportação, como se consolida a contribuição desse factor para a retoma;
2. Reduz-se claramente o défice da balança de transacções correntes, o indicador sintético mais importante no actual momento da economia portuguesa;
3. Diminui em termos reais o consumo público.
Contra isto, que argumenta o Público? Fundamentalmente, três coisas:
1. O crescimento baseado nas exportações é frágil e incerto, porque depende da evolução da economia europeia. Seria melhor que dependesse de quê? Bem espremido, isto equivale a dizer: as coisas estão bem, mas pode ser que venham a piorar um dia. Muito obrigado pelo esclarecimento!
2. O investimento continua em quebra. E por que haveria ele de aumentar? Após um período de estagnação prolongada, o normal é que as empresas disponham de abundante capacidade excedentária. Quando a procura começa a recuperar é natural que necessitem de mais trabalhadores, mas não de mais equipamentos. Logo, só mais tarde o investimento deverá começar a crescer.
3. A previsão de crescimento do PIB do Banco de Portugal é inferior à do Governo. Há alguma novidade nisso? Pela própria natureza das suas funções, o Banco de Portugal é muito mais prudente nas suas previsões. Nessas condições, se ele prevê que o PIB cresça 1,2% é porque dispõe de dados que lhe asseguram que nunca ficará abaixo desse patamar. Por outras palavras, é praticamente certo que acabará por ser superior.
A interpretação tendenciosa dos resultados económicos é infelizmente a regra na nossa imprensa. Daí até se inventar um título alarmista de primeira página - "Banco de Portugal ainda está pouco confiante no fim da crise" - que engana completamente os leitores quanto ao que se está a passar, vai uma grande distância.
15.11.06
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