1.11.06

Há sempre um fado desconhecido que espera por si

Outubro foi oficialmente declarado o mês horribilis do governo de José Sócrates.

E porquê? Terá o povo reagido mal à intransigência do executivo face aos sindicatos, às taxas moderadoras nos internamentos hospitalares, à introdução de portagens nalgumas SCUTs?

Não, mil vezes não. O que deixou o povo à beira de um ataque de nervos foi o anúncio, da responsabilidade de Manuel Pinho, de que a crise teria terminado.

Pode lá ser uma coisa dessas? Que seria de nós se nalgum dia, mesmo distante, a crise viesse mesmo acabasse? De que iriam as pessoas queixar-se? De que iriam os jornais falar? Como iria a oposição poder continuar a exigir o desmantelamento do regime, a privatização da segurança social, o facilitamento dos despedimentos e a redução dos impostos sobre os rendimentos do capital?

A cirse é o nosso modo de vida, o estado normal de existência do país, a única forma de estabilidade a que podemos legitimamente aspirar. Que Nossa Senhora nos defenda!

Como pode a crise ter acabado, argumenta-se, se continua a haver fábricas a fechar? Enquanto houver fábricas a fechar, loucos a guiarem fora da mão na A1, desempregados a assaltarem bancos em Setúbal, gangs a assaltarem velhotas na linha de Sintra - enquanto tudo isso suceder, não necessitaremos de nos preocupar, porque o futuro da crise estará assegurado.

Mas eis que o Ministro da Economia, que com tanta frequência diz asneiras, teve desta vez a infelicidade de dizer uma coisa certa. Não será isso razão mais do que suficiente para nos sentirmos todos preocupadíssimos?

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