14.11.06

Vasco Pulido Valente e a modernização

A época moderna é aquela que continuamente se questiona a si mesma e se propõe como supremo propósito a auto-superação.

A modernização é o movimento que, assentando numa atitude de descontentamento metódico, põe em causa o presente em nome de algo que não existe nem se sabe ainda ao certo o que poderá vir a ser.

A modernidade idolatra o novo como critério valorativo supremo. Não tem outro conteúdo para além desse.

Pode-se achar (ou não) o moderno uma boa ideia. Pode-se achar (ou não) a modernidade um estado de coisas recomendável. Pode-se achar (ou não) o esforço de modernização uma orientação recomendável para os indivíduos e a sociedade.

Mas convém pelo menos que se saiba do que se fala quando se fala de modernização.

Quando, na sua crónica do passado sábado, Vasco Pulido Valente declara que o mero facto de se falar tanto em Portugal de modernização desde o século XVIII prova que o país continua a não ser moderno, ele comete dois erros:

1. No século XVIII ninguém falava de modernização, nem cá nem em parte nenhuma. O conceito de modernização é, digamos assim, moderno: só apareceu no final do século XIX, e ainda assim com um significado algo distinto daquele que hoje lhe damos. Antes disso falava-se de progresso, não de modernização.

2. Como a modernização é uma coisa que, por definição, não tem fim, o facto de se insistir na ideia não pode ser interpretado como sinónimo de fracasso, bem pelo contrário.

Todavia, temos que reconhecer que o prolongado sucesso do cronista Vasco Pulido Valente, conseguido pela repetição década após década da mesma homilia, parece efectivamente confirmar que o país resiste a modernizar-se.

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