25.11.06

Liberais à antiga (7)

O comportamento de Milton Friedman em relação ao Chile de Pinochet foi vergonhoso. Como explicá-lo?

Algumas pessoas acreditam que se tratou apenas de mais uma manifestação do síndroma de Siracusa, o mesmo que levou Platão a colocar-se ao serviço do tirano que governava aquela cidade para aí instaurar a República perfeita. Muitos intelectuais orgulhosos, incluindo Heidegger, d’Anunzio e Gorki, sucumbiram ao longo dos anos a essa tentação.

Quando se envolveu na política chilena, em meados dos anos 70, Friedman ainda não gozava dos favores de governos de países importantes, como um pouco mais tarde veio a suceder com Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos EUA. A vaidade ter-se-ia, portanto, sobreposto ao mais elementar bom senso.

Pode ser que sim, mas as próprias declarações de Friedman sugerem que não terá sido apenas isso. Em muitos dos seus escritos encontramos insinuada a ideia de que, para ele, a liberdade económica é primordial, a liberdade política secundária, e a democracia um estorvo no caminho da primeira. Quando aos direitos humanos, pura e simplesmente não figuram na sua cartilha.

O que torna evidente que Friedman não era, de facto, um liberal à moda antiga, na linha de Hume, Humboldt ou Stuart Mill. Bem pelo contrário, a sua crença dogmática constitui uma usurpação inaceitável dos conceitos centrais do liberalismo, algo a que infelizmente nos habituámos ao longo das últimas décadas.

Por conseguinte, o título "Liberais à moda antiga" que utilizei na série de posts sobre a intervenção político-económica de Hayek e Friedman no Chile de Pinochet tinha uma intenção irónica que não terá passado desapercebida aos mais assíduos frequentadores deste blogue.

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