Paulo Gorjão sugere que, tendo em conta as previsões da UE hoje conhecidas, eu terei embandeirado em arco antes de tempo com alguns indicadores conjunturais favoráveis.
Não creio que tenha razão. Em primeiro lugar, porque eu jamais embandeirei em arco. Limitei-me a sublinhar os factos. Em segundo lugar, porque as previsões da UE não contrariam em nada a expectativa de continuação da retoma económica.
Eu explico-me:
1. Fala-se usualmente de crise quando o crescimento do produto se reduz fortemente e o desemprego aumenta. (Quando o produto cai durante dois trimestres consecutivos fala-se de recessão.) É evidente que, com o crescimento do produto a consolidar-se e o desemprego a diminuir ao longo do ano, a crise económica acabou, a menos que se queira adoptar uma definição muito peculiar de crise económica.
2. Faço desde já notar que essa evolução não é mérito do governo, mas sim das empresas, pois são elas os principais agentes do desenvolvimento. Aquilo que os governos podem fazer para estimular o crescimento de um país só tem efeitos significativos a muito longo prazo.
3. Dizer isto não implica negar que permanecem problemas muito graves, designadamente dois: a) o enorme desequilíbrio da balança de transacções correntes, não compensado por um afluxo de investimento directo estrangeiro; b) o défice das contas públicas. Um e outro implicam o aumento descontrolado da dívida externa.
4. É por isso que o termo da crise económica não deverá traduzir-se tão cedo em políticas orçamentais expansionistas. Sei que isto não é fácil de explicar ao comum dos cidadãos, mas não creio que se deva mentir-lhes para tornar a política económica do governo mais aceitável.
5. O ministro Manuel Pinho pode ser criticado por a sua vistosa declaração se prestar a mal-entendidos e, designadamente, por criar dificuldades ao governo no momento ele procura justificar a necessidade de persistir numa política de austeridade. Mas não por ser falsa, porque não o é.
6. Alguns pretendem que é absurdo falar-se de fim da crise enquanto houver fábricas a fechar. É difícil encontrar palavras para qualificar uma tal afirmação. Segundo esse critério estaremos sempre em crise desde que algo corra mal ou, pelo menos, não corra inteiramente bem. Ora isso não é sério.
7. Relativamente às previsões da União Europeia, é preciso recordar três coisas. Em primeiro lugar, tendo elas subavaliado sistematicamente o desempenho da economia portuguesa nos últimos anos, a verdadeira notícia é que acabam de revê-las em alta. Em segundo lugar, as previsões hoje divulgadas não põem em dúvida a melhoria continuada da situação económica portuguesa em 2007. Em terceiro lugar, e isto é o mais importante, não há nenhuma forma científica de fazer previsões económicas, pelo que se trata apenas de mais uma opinião - certamente respeitável, mas apenas uma opinião.
8. O que me parece altamente criticável é a forma tendenciosa - ou será apenas estúpida? - como os nossos media sistematicamente destacam qualquer má notícia (mesmo que só na aparência) e desvalorizam ou ocultam (como nos casos que referi) qualquer boa nova. Se algum indicador piora, trata-se decerto de uma tendência de fundo destinada a perdurar nas próximas décadas. Se alguma coisa parece arribar, há-de haver qualquer situação particular que autorize a desvalorização do facto.
9. Qualquer pessoa, mesmo que não versada em teoria económica, entende que a criação de um ambiente de injustificada descrença só contribui para piorar as coisas, designadamente na medida em que trava as iniciativas empresariais e inibe o investimento.
10. Sobre a magnitude da tarefa que recai sobre o governo em 2007 não cabe a mínima dúvida. Mas não vejo nenhuma razão séria para apostar que ele vai falhar. Pelo contrário, a avaliar pelo que fez até agora.
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