29.6.07

Novelas do Minho

O Dr. António Salgado Almeida, médico no Centro de Saúde de Vieira do Minho e vereador da CDU na Câmara Municipal de Guimarães tem andado algo deprimido ultimamente. Compreende-se, porque a vida não tem corrido de feição aos comunistas.

No íntimo, porém, conserva o juvenil espírito revolucionário que o tornou conhecido na terra, de modo que, corria o mês de Outubro do ano passado, não resistiu à tentação de fazer pilhéria com uma das bombásticas afirmações que o Ministro da Saúde de vez em quando gosta de fazer para afirmar a sua importância.

Foi assim que, num espaço de acesso público do Centro de Saúde, pespegou uma fotocópia de certas declarações de Correia de Campos acompanhada da frase mais engraçada que lhe acudiu ao espírito: "Façam como o ministro e vão às urgências a Braga."

Aqui ocorre um hiato na narrativa, pois não se apurou ainda como chegou a nova aos ouvidos do Ministro. Conjecturo, porém, que algum militante socialista local mais diligente terá entrado em com contacto um camarada destacado para o gabinete de Correia de Campos em Lisboa.

Quero acreditar que, preocupados com intrigas mais urgentes, quer o chefe de gabinete quer o próprio Ministro tenham começado por sacudir os ombros. Nas suas costas, porém, a tempestade foi-se agigantando. Estes independentes são sempre gente algo suspeita, cão que não conhece o dono predisposto a esquecer-se de quem os pôs lá e a compor alianças com o inimigo se por acaso lhes der jeito.

Pois como se admite que a Directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, esposa do Vice-Presidente da autarquia de Vieira do Minho eleito pelo PSD, fosse mantida em funções depois de um escândalo daqueles - ainda por cima quando o PS dispunha de dedicados quadros locais à espera de uma oportunidade de demonstrarem a sua lealdade ao partido e a sua dedicação ao país?

De concelhia em concelhia, de distrital em distrital, de gabinete em gabinete, o falatório foi crescendo. Não é impossível que algum recado tenha chegado à Direcção do Partido ou mesmo - quem sabe - à própria Presidência do Conselho de Ministros.

É bem possível que, nas suas deslocações pelo país, ao passar perto de Vieira do Minho, as forças vivas do Partido tenham feito sentir a Correia de Campos o mal-estar que se instalara entre os militantes locais. Era necessário fazer alguma coisa para impedir a desautorização do governo e esmagar a agressiva oposição minhota. Chegadas as coisas a este ponto, é muito provável que o Ministro já estivesse convencido. Mas que haveria de fazer-se?

Foi então que, para alivio do próprio, lhe foi proposta como solução a substituição da traiçoeira Maria Celeste por Ricardo Armada, vereador do partido governamental na Câmara de Ponte da Barca.

Corria o mês de Janeiro - três meses, portanto, depois da ocorrência que tão inopinadamente perturbara a paz da família socialista de Vieira do Minho - quando Campos se decidiu a assinar a sentença contra a Directora do Centro de Saúde.

Se quisermos resumir a história em breves linhas, temos aqui um militante comunista que se vale da sua posição de médico para fazer propaganda política junto dos utilizadores do Centro de Saúde onde trabalha, de uma máquina partidária socialista com poder bastante para enredar o governo nas águas turvas da pequena política das vaidades locais, de um vereador do PS que intriga para roubar um cargo ocupado pela mulher de um militante do PSD e de um ministro suficientemente convencido e pouco esperto para se deixar envolver nesta novela minhota de faca e alguidar.

Juro que não tenho nenhum conhecimento directo ou indirecto do caso. Mas, se não foi assim que as coisas se passaram, poderia ter sido. E isso é o que interessa.

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