21.6.07

O embaixador nas Seychelles

Há um bom par de semanas ouvi pela primeira vez alguém falar da alegada nomeação de um novo embaixador de Portugal nas Seychelles.

Ontem, o Público puxou o assunto para a sua secção "Sobe e Desce", criticando o Ministro Luís Amado por colocar um embaixador numa ilha com um punhado de habitantes ao mesmo tempo que encerra consulados um pouco por toda a parte.

Hoje, o Público queixa-se de ter sido induzido em erro por declarações de Manuel Monteiro, penalizando-se de passagem por não ter verificado a existência da dita embaixada no Pacífico.

Terá o Público aprendido a lição?

Reparem no título que hoje puxa para a primeira página: "Especialista do MIT diz que OTA é um risco para os investidores". A implicação é evidente: o tal especialista é mais uma voz autorizada que condena a localização do novo aeroporto na OTA, reforçando a razão daqueles que se lhe opõem.

Todavia, quem se der ao cuidado de ir ler o artigo e conseguir penetrar na sua prosa deliberadamente encaracolada cedo se aperceberá de que o tal especialista não discute a localização do aeroporto, limitando-se a fazer algumas prevenções sobre a necessidade de se adoptar uma estratégia flexível na sua concepção, seja qual for o sítio onde venha a ser construído.

Mais ainda, as citações incluídas no artigo não sugerem a existência de qualquer risco especial para além daquele que é normal num empreendimento de grandes dimensões como este. Os factores de incerteza mencionados são comuns a toda a actividade aeroportuária em qualquer parte do mundo.

Para sermos rigorosos, o título escolhido pelo Público para a sua primeira página é, pois, enganador.

Sejam quais forem as intenções das três autoras (três!) do breve artigo, o resultado prático deste tipo de jornalismo de pacotilha consiste em aumentar o poder negocial dos futuros investidores face ao Estado, o que não podemos deixar de considerar um excelente serviço prestado pelo Público à comunidade.

Como por mais de uma vez fiz notar, o Público de hoje enche as suas páginas de doutrinação e lavagem ao cérebro disfarçadas de notícias.

Mais grave ainda, quando é apanhado a dar cobertura a um boato sobre um alegado embaixador nas Seychelles, o Público, em vez de assumir directamente a responsabilidade pelo erro, passa a culpa para Manuel Monteiro.

Sendo estas situações recorrentes, não teria sido mais sério pôr na rubrica "Sobe e Desce" a fotografia do Director José Manuel Fernandes e assumir o compromisso de no futuro tratar os assuntos com outra seriedade?

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