17.6.07

Uma história pouco clara

Segundo Rui Moreira, estava previsto que a Associação Comercial do Porto que ele dirige patrocinasse também, conjuntamente com a CIP e outra confederação não identificada (mistério!) o estudo de uma localização alternativa na margem Sul para o novo aeroporto de Lisboa.

Todavia, na sequência de uma reunião entre Sócrates, Lino e Van Zeller que terá tido lugar nos primeiros dias de Março, ficou decidido que a ACP ficaria de fora.

Parece-me normal que, no âmbito de um relacionamento civilizado entre as duas partes, a CIP tivesse informado o Governo das iniciativas que estava a tomar neste domínio.

Já o resto da história deixa-me algo perplexo, dado sugerir uma articulação de estratégias e propósitos que contraria a impressão geral que tem sido passada para a opinião pública.

Afinal, parece que o Governo não só recebeu bem o estudo da CIP, como terá de algum modo apadrinhado e incentivado a iniciativa, ao ponto de terem sido aceites as suas sugestões sobre o modo como as coisas deveriam ser organizadas.

Mais ainda, como explicar que o Governo tenha continuado publicamente a proclamar a sua inabalável fé na solução Ota, se - desde Março! - em privado já admitira, ao menos tacitamente, poder vir a reconsiderá-la?

Qual seria a intenção de José Sócrates? Como se prestou Lino a desempenhar o papel que desempenhou? Como se sentirão as muitas pessoas envolvidas no processo que, desconhecendo estas negociações secretas, continuaram a dar publicamente a cara pela opção defendida pelo governo? Como espera Sócrates poder no futuro contar com o empenhamento dos seus colaboradores se se gerar a suspeita de que poderá retirar-lhes o tapete a qualquer momento?

Finalmente, qual o papel exacto da CIP nisto tudo? Por que aceitou acertar a sua iniciativa com o governo, nomeadamente no que respeita às entidades envolvidas e às alternativas a analisar?

Fiquemo-nos, para já, por aqui.

PS - Uma nota final sobre a risível alegação de que o anonimato dos financiadores do estudo se deveria ao receio de represálias. Em primeiro lugar, em Portugal são os governantes quem tem receio das grandes empresas, dado que do bom relacionamento com elas depende, como o atestam tantos casos de mansa submissão, a sua carreira profissional após abandonarem o executivo. Em segundo lugar, como se explica que a CIP não tenha tido ela própria receio de represálias, se as associações empresariais sobrevivem entre nós à custa dos subsídios recebidos do Estado?

PPS: Também Pacheco Pereira e Paulo Gorjão acham esta história estranha.

Sem comentários: