7.3.05

Estatística para o povo

Os meus dois últimos posts suscitaram diversos comentários, dos quais os mais interessantes me chegaram por email.

Deixarei de lado os que se concentram no lado futebolístico da questão, até porque, como imaginam, eu não podia estar-me mais nas tintas para a Taça de Portugal e para o Benfica.

Tratarei, portanto, das observações de carácter propriamente estatístico, porque é possível aprender-se alguma coisa com elas.

A primeira objecção que me fazem é que, em 1.000 sorteios, é mínima a probabilidade de saírem 500 fora e 500 em casa. Há aqui um engano. Há milhões de diferentes sequências possíveis de 1.000 sorteios em que 500 jogos são em casa e 500 são fora, pelo que a probabilidade individual de cada sequência é de facto ínfima. No entanto, a soma das probabilidades dessas diferentes sequências é, de facto, de 50%.

A segunda objecção é ainda mais interessante, visto encerrar um vício de raciocínio muito comum. Dizem-me que, para se saber se a sequência de sorteios que beneficiou o Benfica é ou não anormal seria necessário analisá-la no contexto de todos os anteriores sorteios para a Taça de Portugal envolvendo o Benfica, digamos os últimos 1.000. Lamento muito, mas isto é um erro, porque a probabilidade de o Benfica só jogar fora uma vez nos últimos 9 sorteios realizados é completamente independente do que se passou nos anteriores 991 sorteios.

A estatística é uma ciência fascinante, porque é a linguagem que a natureza e a sociedade usam para falar connosco. Para entendê-la é preciso conhecer os seus princípios fundamentais.

Acreditem ou não, aprender estatística é muito mais importante do que saber falar inglês. Foi principalmente isto que eu quis demonstrar.

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