27.9.03

Outra vez os pilotos israelitas. Como era de prever, o meu post sobre os pilotos israelitas suscitou reacções iradas. Um leitor, em particular, deu-se ao trabalho de me dirigir uma crítica cujo argumento mais sólido era a suspeita de que, se calhar, eu sou judeu.

É capaz de não andar longe da verdade. Mas, já agora, dou-lhe o desgosto de o informar de que provavelmente ele também será, visto que, segundo afirma Steve Olson no seu magnífico livro Mapping Human History, a mistura de raças nesta vasta zona geográfica que circunda o Mediterrâneo foi tão intensa ao longo dos últimos milénios que não deverá hoje haver ninguém que não tenha sangue hebreu (mas também árabe, obviamente).

Falando mais a sério, como o assunto merece, peço que notem, em primeiro lugar, que eu falei da superioridade moral de Israel, não dos israelitas. E é assim porque, apesar do crescimento da vaga fundamentalista dentro do país, suportada pelo peso dos ortodoxos e pelo militarismo de alguns sectores, Israel é um estado que assenta as suas raízes na tolerância política e ideológica. Se se afastar delas, desaparecerá.

O outro ponto que eu gostaria de destacar é que vivemos num mundo extraordinariamente complexo. Por muito que queiram convencer-nos do contrário, as soluções simplistas não levam a lado nenhum, excepto talvez à escalada da violência insensata a que presente assistimos. Acredito que o bem e o mal existem, mas também acredito que, na maior parte das situações e na maior parte do tempo, as coisas não são tão claras assim.

Compreendo que quem está directamente envolvido nos conflitos não consiga ter a lucidez de entender ou sequer escutar os argumentos da outra parte, ou seja, de reconhecer a humanidade essencial do outro lado. Tenho muito mais dificuldade em entender o sectarismo de quem, apesar de separado do conflito israelo-palestiniano por milhares de quilómetros, e sobretudo por uma vivência livre das terríveis pressões psicológicas que ambos os lados sofrem no seu quotidiano, parece ainda assim mais empenhado em lançar chamas para a fogueira do que em apoiar todos os gestos, por frágeis e isoladas que eles sejam, que apontam no bom sentido.

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