Para onde vai a economia americana? Hoje ocorreu-me escrever sobre um assunto de que, estranhamente, não se fala por cá.
O espectacular crescimento dos EUA durante a década de 90 não resultou, ao contrário do que se ouve dizer, da extraordinária eficiência da economia americana. Na verdade, foi o produto de uma peculiar conjugação de duas circunstâncias surpreendentes e irracionais: os consumidores e as empresas americanas entretiveram-se a gastar todo o dinheiro que podiam, enquanto o resto do mundo, convencido de que o milagre económico americano era real, se disponibilizou a financiar esse crescimento descontrolado do consumo e do investimento.
Assim, todo o mundo, países subdesenvolvidos incluídos, mobilizou-se para emprestar dinheiro aos EUA. Seria de esperar que os capitais se movimentassem dos países avançados para os atrasados, mas foi precisamente o contrário que aconteceu. Os pobres emprestaram a camisa aos ricos, razão mais do que suficiente para muita gente se aborrecer com o rumo dos acontecimentos.
Hoje em dia, os EUA são o maior importador de capitais do mundo, secando as fontes de investimento tradicionalmente dirigidas para os outros países (como o nosso, por exemplo). Mas que culpa têm os EUA de que os investidores apostem na economia americana?
A verdade é que este jogo só pode manter-se devido a duas circunstâncias. Em primeiro lugar, o governo americano, em vez de controlar a situação, agrava o problema reduzindo a carga fiscal sobre os mais ricos e multiplicando a dimensão do déficite federal até a um nível demencial. Em segundo lugar, os investidores institucionais, e principalmente os governos asiáticos continuam a mandar dinheiro para os EUA, aplicando-o designadamente em títulos da dívida pública.
Se se tratasse de qualquer outro país, o FMI já teria lançado um alerta pondo de sobreaviso os credores dos EUA; mas, assim, limita-se a assistir aos acontecimentos.
No ano passado já houve um esboço de reacção dos mercados internacionais que provocou uma rápida quebra da cotação do dólar. Desde então, porém, as coisas estabilizaram.
O que vai acontecer a seguir? Há dias, o economista Paul Krugman foi entrevistado sobre este e outros assuntos. Eis o que respondeu:
What happens if these foreign countries do stop buying U.S. bonds? Is this a real concern, or a tinfoil hat kind of thing? Oh, I don't think China is going to [stop buying U.S. bonds in order] to pressure us. You can just barely conceive of a situation where they're mad at us because we're keeping them from invading Taiwan or something, but more likely they just start to wonder if this is really a good place to be putting their money. So what happens is a plunge in the dollar when they decide to stop buying and start cashing in, and a spike in U.S. interest rates. But you might also get in a situation where the interest rates the government has to pay to roll over its debt become so high that you get an accelerating problem, which is what happened in Argentina. What happened was that suddenly no one would buy Argentine debt unless they paid a twenty something percent interest rate, and everybody says, but if they have to roll over their debt at a twenty percent interest rate, there's no way they can pay that back. So the whole thing grinds to a halt and the cash flow just dries up.
And do you think that's a serious possibility for the United States? Yeah, just take the numbers as they now look, and that's where it heads. And you might say, OK, we can easily handle it. U.S. taxes are 26 percent of GDP in the U.S., in Canada they're 38 percent of GDP. If you raise U.S. taxes to Canadian levels there's plenty of money to cope with all of this. But politically we've got a deadlock, and it's hard to imagine that happening. So you say, but this can't happen, this is America, and I guess my answer is, is it? Is this the same country that we had in 1970? I think we have a much more polarized political system, a much more polarized social climate. We certainly aren't the country of Franklin Roosevelt, and we're probably not the country of Richard Nixon either, so I think we have to take seriously the possibility that things won't work out this time...
Pelo sim, pelo não, apertem os cintos de segurança.
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