Vidas paralelas de Eisenstein e Riefenstahl. A morte de Leni Riefenstahl serviu de pretexto a José Manuel Fernandes para mais uma tentativa de demonstração da equivalência entre nazismo e comunismo, um tema crucial a que mais tarde ou mais cedo voltarei com o cuidado que merece.
Desta vez, o argumento aduzido a favor da tese foi a pretensa similitude entre os estatutos de Eisenstein e Leni Riefenstahl na sua relação com um poder tirânico. Não ignorando os conflitos que opuseram Eisenstein ao governo soviético, José Manuel Fernandes sugere que talvez Leni não tenha tido tempo para embirrar com Hitler. Comparar um facto com uma hipótese é um procedimento discutível, mas adiante.
Concordo inteiramente com Augusto Seabra quando ele escreve no Público que as dimensões artísticas das duas personagens não são comparáveis. Embora eu não seja nem um grande conhecedor, nem um grande admirador de Eisenstein, entendo que ele é um artista, ao passo que Leni Riefenstahl é uma mera propagandista, distinção que, pelos vistos, muita gente não alcança.
A propaganda, como a publicidade e outras artes a que os americanos certeiramente apelidam de comerciais incorporam sem dúvida valores estéticos e socorrem-se de meios de expressão semelhantes aos utilizados pela arte. Mas não se tornam arte por causa disso.
A arte tem uma dimensão essencialmente não utilitária que a impele a encarar o mundo como algo problemático. Daí ser ambivalente (ou mesmo polivalente) em relação aos seus objectos, não comunicar certezas, mas possibilidades ou perspectivas. A grande arte é aberta e não fechada. Não carreia certezas, suscita dúvidas. Não transmite mensagens, sugere e inspira ideias e sentimentos. Abre-se a uma pluralidade de interpretações e sentidos. Apela para a nossa inteligência e sensibilidade e não para a nossa submissão.
Agora olhem outra vez para os filmes de Leni Rifenstahl, comparem com os de Eisenstein, e digam lá se tenho ou não razão.
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