18.12.04
Brad Mehldau e Bill Evans
Brad Mehldau não gosta nada de ser comparado a Bill Evans. Quem faz essa comparação, acha ele, não entende nada da sua música.
Entendo o que quer dizer, dado que os estilos dos dois pianistas são suficientemente singulares para não autorizarem confusões.
Mas a intensidade da relação que estabelecem com os temas que interpretam, a profundidade intelectual da sua música - só possível em alguém muito versado na música clássica - a seriedade com que abordam a matéria-prima que lhes serve de base, seja ela um standard de reputação firmada ou uma cançoneta a que a maioria de nós nunca concedera muita atenção, aproximam-nos um do outro.
A maioria dos intérpretes de jazz mainstream confinaram-se durante demasiados anos a um domínio musical excessivamente restrito de standards do tempo da carochinha, às vezes com o argumento explícito de que a música pop contemporânea não possui uma riqueza melódica comparável à produzida por Berlin, Porter ou Ellington. Como se a melodia fosse a única dimensão relevante da música!
Essa auto-limitação entravou o desenvolvimento do jazz e retardou a adesão de novos públicos. Ao retrabalhar composições dos Beatles ou dos Radiohead, Mehldau introduz de uma forma subtil - tudo nele é understatement, outro ponto que o aproxima de Evans - novas dimensões no jazz contemporâneo.
Um exemplo perfeito disso mesmo é a excitante versão de "Things behind the sun" de Nick Drake com que abre o seu recente «Live in Tokyo» que hoje escutei pela primeira vez.
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