2.7.05

A fio de Espada

A mim, não me chocam particularmente as opiniões do Professor Espada. Enquanto opiniões, são apenas isso: uma forma pessoal de ver o mundo que merece, pelo menos em princípio, tanto respeito como qualquer outra.

O que me incomoda e me desgosta é o sistemático e constante recurso à mentira - digo bem: à mentira - para apoiar as suas ideias.

Já aqui apontei exemplos no passado.

Hoje mesmo, escrevendo no Expresso, o Professor atribui "em grande parte" a Rousseau "a ideia bizarra de que um governo grande seria aceitável - e até mesmo desejável - desde que fosse um «governo do povo»", sendo evidente, no contexto do artigo, que a expressão "governo grande" é entendida como sinónimo de Estado omnipresente e tentacular, e, por decorrência, de elevada carga fiscal.

Não é preciso ser-se um grande especialista de Rousseau para se saber que ele jamais defendeu algo do género, e que a Revolução Francesa - outro bode expiatório favorito do Professor Espada - não levou à criação de um Estado mais poderoso do que aquele que existia anteriormente.

Acontece que, sendo o Professor Espada professor de Ciência Política, ele não pode desconhecer isto. Se ele quer apontar à execração pública um teorizador do totalitarismo, poderia descarregar antes a sua fúria sobre Thomas Hobbes.

Mas é claro que isto não seria muito bem visto nas universidades britânicas que ele frequenta, onde a forma mais eficaz de obter apoio para um qualquer ponto de vista consiste, ainda hoje, em atribuir a opinião contrária a um francês - ou, pelo menos, a alguém com um nome francês, dado que Rousseau era genebrino.

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