Tudo começou, compreendo-o hoje, com a interdição de largar na rua os escravos negros mortos, sob o pretexto de que a sua putrefacção punha em risco a saúde pública. Mas era mentira, uma rematada e descarada mentira, porque os cães de Lisboa encarregavam-se de conservar as ruas limpas, de modo que os cadáveres sempre serviam para alimentar os animais.
Passado pouco tempo, a Câmara e a Polícia desataram a aplicar pesadas multas aos habitantes pobres que faziam na via pública os seus despejos por manifesta impossibilidade de resolverem o problema de outro modo. De forma que toda a gente foi obrigada a escavar uma fossa e, mais tarde, a descarregar os dejectos familiares na rede pública de esgotos. Tudo, já se sabe, só para nos cobrar mais taxas, mais multas e mais impostos.
Julgavam os néscios que, podendo a gente fina passear-se pela cidade sem ter que tapar o nariz, o Estado deixaria de incomodar quem trabalha. Puro engano! O passo seguinte foi entrar a perseguir os côvados, as braças, os arratéis e as arrobas, unidades de medida bem nossas e bem portuguesas e forçar o zé povinho a dobrar-se à tirania dos metros, dos litros e dos quilos imposta pelos exércitos napoleónicos.
Ainda o povo não se tinha recomposto de tanta perturbação, quando certos burocratas decidiram que as nossas aldeias, vilas e cidades não poderiam continuar a ter a sua hora solar própria. Parece que, a bem da circulação ferroviária, teria que ser adoptada uma hora nacional ajustada em função de um meridiano estrangeiro. Mas eu pergunto que sentido fez impor-se uma moda inglesa a quem ao comboio preferia o burro?
De modo que não temos nada que nos admirar quando a cáfila que nos governa, impondo a interdição total de fumar em restaurantes e cafés, enterra em definitivo as liberdades ancestrais dos portugueses, viciados na pirisca desde o tempo do Viriato, para não ir mais longe.
Se houvesse algum respeito pelo livre arbítrio do indivíduo e das pessoas em geral, o mínimo exigível seria dar aos proprietários a opção entre autorizarem ou não o fumo nos seus estabelecimentos, de modo que os clientes poderiam também escolher que locais prefeririam frequentar.
Mas parece que não pode ser, porque os comunistas querem proteger a criadagem do fumo passivo. Fumo passivo! Protecção da criadagem! Que repugnante conversa de maricas! Pobre país! Ao que nós chegámos!
3.1.08
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