22.1.08

The real thing



Interrogado sobre o que pensa de um dos seus filhos se ter voluntariado para combater no Iraque, John McCain respondeu que as questões privadas não devem misturar-se com as questões políticas.

É evidente que este silêncio pode não passar de uma forma ardilosa de o candidato retirar dividendos políticos dessa particular situação familiar. Mas a verdade é que, vindo dele, não parece.

McCain leva a sua franqueza ao ponto de admitir frontalmente ter cedido por vezes no passado à tentação de pactuar com certas formas de demagogia no propósito de ganhar votos. Mais uma vez, isto pode ser apenas uma forma superior de demagogia, mas eu não fico com essa impressão.

Prisioneiro de guerra torturado pelos seus carcereiros durante a guerra do Vietname a ponto de ter sofrido lesões irreversíveis, o candidato republicano não aparenta ser guiado pelo ressentimento ou pela tentação de se armar em herói, qualidade que poucos como ele poderiam legitimamente invocar.

Na campanha de há oito anos foi alvo das mais torpes calúnias oriundas da candidatura de George Bush, mas recusou-se e recusa-se a pagar-lhe na mesma moeda.

John McCain sustenta que a retirada imediata e incondicional das tropas americanas do Iraque seria uma traição ao povo iraquiano e aos seus aliados. Obviamente, tem toda a razão no que diz.

Numa época dominada pelo cinismo, é excelente aparecer um político cujas atitudes e postura inspiram genuína confiança aos eleitores. McCain é, a meu ver, a garantia de que, também do lado republicano, há pelo menos um candidato cujos padrões de inteligência, carácter e mera decência o tornam numa boa escolha para Presidente dos EUA.

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