Em Agosto de 68 encontrei um destacado comunista português, afastado da militância activa por razões que só mais tarde vim a conhecer e que são irrelevantes para o caso.
Questionou-me sobre as repercussões do Maio de 68 na minha universidade, mas, sem me dar tempo para responder-lhe, declarou-se feliz por, no seu entender, a juventude portuguesa ignorar movimentações insensatas inspiradas por anarquistas e estimuladas pela burguesia.
Eu não ignorava o incómodo do PCF e da CGT perante os recentes acontecimentos em França. Mesmo assim, fiquei chocado com a agressividade evidenciada pelo meu interlocutor - tão chocado, que ainda hoje me recordo perfeitamente do lugar e das circunstâncias em que a conversa ocorreu.
Dias depois, os tanques soviéticos invadiram a Checoslováquia, e, como seria de esperar, ele exultou.
O ano de 1968 marcou, também entre nós, a ruptura definitiva entre a nova esquerda e os comunistas pró-soviéticos. Foi essa a sua principal e mais duradoura consequência política.
Entre os dois sectores da oposição ao antigo regime cavou-se um fosso que não fez senão aprofundar-se nos anos seguintes: bem notório na crise académica de Lisboa de 1970 (mas não na de Coimbra de 1969), ele revelou-se à luz do dia, com uma violência para muitos surpreendente, no imediato pós-25 de Abril.
12.5.08
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