9.5.08

O perigo amarelo

Questionado sobre a Revolução Francesa, Chu En-lai, o crónico Ministro dos Negócios Estrangeiros de Mao, respondeu que ainda era demasiado cedo para fazer um balanço.

Irá a China dominar o mundo, como sugere o Expresso desta semana? Mesmo não sendo Chu En-lai, acredito que ainda é demasiado cedo para o saber.

A China é tão grande que 1% da sua população é muito mais do que a totalidade dos residentes em Portugal. Apesar de continuar a ser um país muito pobre, em breve terá mais milionários do que a Europa Ocidental. Permanecendo uma potência económica de segunda ordem, é já o segundo maior exportador mundial.

Um mundo sem a China era uma coisa estranha, como um corpo privado de um braço e de uma perna, ou mesmo de alguns órgãos vitais. Um mundo com a China - ou melhor, com mais umas centenas de milhões de trabalhadores a produzirem para o mercado mundial - parece um lugar congestionado, onde não há lugar para todos, principalmente quando se é um operário pouco qualificado num país desenvolvido.

Conseguirá a China manter as altas taxas de crescimento do último quarto de século? No final dos anos 80 previa-se que o Japão em breve ultrapassaria os EUA, mas desde então, como que para desmentir o prognóstico, o Império do Sol Nascente parou de crescer.

Os milagres económicos não duram sempre. Pior: quanto mais milagrosos, mais propendem a desembocar em períodos de estagnação prolongada.

A revolução económica operada na China partiu o país aos bocados. Cavou-se um fosso entre ricos e pobres, cidade e campo, litoral e interior. A isto há a acrescentar as tensões étnicas, linguísticas e culturais, que não só permanecem como se agravaram. A prazo, duvido que a histeria nacionalista seja incapaz de contê-las, tanto mais que a ausência de mecanismos democráticos de negociação entre as partes inibe a resolução pacífica dos conflitos.

Acresce que a irracionalidade económica é manifesta no domínio das obras públicas e do investimento público em geral. Tampouco o sistema financeiro assegura uma distribuição eficiente dos recursos. Os sistemas de incentivos às empresas são confusos e excessivamente politizados. Pior ainda, os direitos de propriedade e a protecção contra a fraude económica não se encontram suficientemente protegidos.

Desconfio que, quando as coisas derem para o torto - e, mais tarde ou mais cedo, as coisas dão sempre para o torto - o partido único, fiel à sua natureza nacionalista, reagirá excitando os sentimentos chauvinistas contra os inimigos estrangeiros.

Vamos esperar para ver, com paciência de chinês.

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