12.5.08

A sogra de Bill Clinton



No final da primeira década do século XXI já todos os interessados presenciaram um concerto dos Stones ao vivo, escutaram um CD dos Stones ao vivo ou assistiram a um video dos Stones ao vivo.

Que poderia acrescentar "Shine a Light", o filme de Scorsese agora estreado?

Alguns flashes de entrevistas antigas sem particular interesse limitam-se a sublinhar a longevidade da banda. Um ou noutro momento de intimidade com o que se passa no palco - a expressão de cansaço de Watts no final de um trecho mais puxado ou um vislumbre do alinhamento das canções rabiscado na face de um quadro negro invisível para o público, por exemplo - não são suficientes para justificar a empreitada.

À medida que os Stones envelhecem, cresce o protagonismo de Richards em detrimento de Jagger. Este já todos entendemos que é um genial farsante, mas o mistério do primeiro, com a sua impassível máscara de repugnante bardinas, adensa-se de dia para dia.

Só ele parece disposto a jogar o jogo até ao fim, excepto naquele raro momento em que, como qualquer pessoa normal, condescende num beijinho bem comportado à sogra de Bill Clinton, embevecida com aquela oportunidade única de privar com o mafarrico em pessoa.

Agora, que João Paulo II unilateralmente aboliu o Inferno, o diabo já não mete medo a ninguém. E os artistas malditos também não.

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