2.5.08

Um momento mau?

A queda de 7,4 pontos percentuais da popularidade de Cavaco Silva revelada no Expresso de amanhã parece mostrar que, afinal, os portugueses se interessam o suficiente por política para penalizarem um Presidente da República que se revelou incapaz de defender a unidade nacional perante os dislates de Alberto João Jardim .

É possível que nos próximos meses a cotação de Cavaco regresse aos valores normais. Mas eu não estou assim tão certo, visto que novas gaffes de razoável gravidade se seguiram prontamente ao seu chocante comportamento durante a viagem à Madeira.

Assim, no dia 25 de Abril, o Presidente, armado de um estudo especialmente encomendado para o efeito, proclamou o "alheamento" dos jovens face à política. Mas logo se descobriu que o estudo encomendado e pago pelo Estado português sugere afinal precisamente o contrário. Estranha maneira de fazer política de alguém que, apesar de se apresentar como um pragmático, concede na realidade mais importância aos preconceitos doutrinários do que aos factos.

Logo de seguida, em viagem pela Áustria, o Presidente que "não faz comentários sobre política interna" quando se encontra no estrangeiro deixou cair algumas opiniões depreciativas sobre o estado da economia portuguesa, sem dúvida para ajudar a atrair investimento estrangeiro.

O que vem a seguir será mais complicado do que até agora, sobretudo tendo em conta a dificuldade que Cavaco Silva tem revelado em adequar o seu comportamento à função não-executiva que presentemente desempenha.

Se Manuela Ferreira Leite perder, Cavaco deixará definitivamente de poder influenciar a orientação interna do PSD, e deverá resignar-se a colaborar até ao final do seu mandato, mais ou menos contrariado, com o governo José Sócrates.

Se Ferreira Leite ganhar, porém, a delicadeza da sua situação não será menor, visto que, conhecida a proximidade entre os dois, tudo o que Cavaco disser de mais relevante ou não absolutamente inócuo poderá ser mal interpretado e, por conseguinte, usado contra ele.

Se não tiver muito cuidado, arrisca vir a ser o primeiro Presidente da República não re-eleito desde o 25 de Abril.

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