4.10.03

Ai que fui apanhado! Durão Barroso elogiou o «sentido de Estado» de Pedro Lynce ao demitir-se.

Não sou a favor de se perder demasiado tempo a bater neste ceguinho, até porque, em si mesmo, o episódio é apenas uma instância particular dos nossos mesquinhos hábitos quotidianos de resolver tudo com cunhas. Não estivessem em causas ministros, e ninguém lhe concederia sequer um segundo de atenção.

Mas, sendo a oportunidade de dar um exemplo a partir de cima o único aspecto meritório de tudo isto, é preciso sublinhar que o comentário do primeiro-ministro assume, neste contexto, um aspecto absolutamente contra-producente.

Pois não é verdade que «sentido de Estado» foi exactamente o que Lynce provou não ter ao usar os poderes ministeriais de que foi investido para desenrascar um amigo? Ou será que, no newspeak barrosista, «sentido de Estado» tem um significado diferente do corrente e correcto? Ou será que, no seu entender, o único erro de Lynce foi ter-se deixado apanhar?

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